Chico Anysio foi visto no aeroporto em uma cadeira de rodas. Aos 77 anos, ele sofre as consequências de décadas de cigarro.
Dizem que depois de uma certa idade, as pessoas perdem o receio de dizer o que pensam e ele, que já não tinha papas na língua, faz falta na TV!
Ao que parece, fumar não está entre os seus arrependimentos. Na verdade, não sei de nenhum fumante (ou ex) arrependido.
O texto é do seu blog.
"A vida está ai, nos dando um minuto a cada sessenta segundos e seguindo seu caminho sem nenhuma parada para o almoço. Cada dia que passa, passa para sempre e sempre será assim.
Enquanto vamos vivendo, envelhecemos o suficiente para que saibamos mais da vida, o que, no final das contas, não significa vantagem nenhuma.
Acontece que de repente nos damos conta de que coisas que gostaríamos de ter feito ou de fazer, já não podemos mais nem pensar em tentar fazê-las, pela natural impossibilidade melancolicamente imposta pela idade.
É quando passam pela cabeça da gente os arrependimentos.
Pequenos, dispensáveis, mas alguns deles trazendo uma espécie de dor, alguma coisa reimosa, cruel, cheia de ranço e de raiva, algo como uma tristeza.
Ah, quanta coisa eu poderia ter aprendido e não aprendi; quanta coisa eu poderia ter feito e não fiz; quanta coisa eu poderia ter gozado e não gozei.
E, um atrás do outro, vão passando pela cabeça da gente esses arrependimentos veniais, insuportáveis inimigos que proporcionam, às vezes, invejas. Mas este pecado (um dos sete) é manso; uma inveja ocasional, absolutamente branca e perdoável.
E se é disso que me dispus a falar, falemos:
Eu confesso que não saber assoviar é terrível para mim. E que inveja eu tenho de quem coloca dois dedos na boca e solta um assobio aqui que se escuta em Vitória. Os que conseguem isto são uns felizardos e talvez nem saibam.
E andar de patins? Deus do Céu! Eu até que tentei. Tanto os de roda como os no gelo. Não conto os tombos que levei em New York, naquela pista de gelo do Rockfeller Center, onde nem em pé em conseguia ficar. Um amigo me disse, para me dar uma força:
- Não desista. No começo é assim, mas você consegue.
Eu não quis insistir e hoje eu fico babando enquanto aqueles caras disputam os campeonatos mundiais, patinando sobre facas, com rodopios maravilhosos e desenhos encantadores. Para mim era bastante conseguir ir de um lado ao outro do rinque, mas...
E não saber dançar? Acho que o meu maior arrependimento está ai, em não saber dançar. Eu não queria ser um Fred Astaire, ou um Gene Kelly. Nem mesmo me enchia os olhos o desejo de ser um Carlinhos de Jesus. Não. Nada deste tamanho. A mim bastava ser igual a... a quem? Ser igual a você, que pega a sua mulher ou a sua namorada e sai com ela, dançando um bolero, um samba, um fox, um forró, uma valsa, rodando pelo salão, com elegância, dentro do ritmo, sem tropeçar ou pisar nos pés dela. Eu não queria chegar nem mesmo ao tango. Mas estou aqui, perto dos 80 anos, duro como um cabo de vassoura, enquanto caras de idade ainda maior que a minha, abraçam suas esposas e bailam, e bailam, e bailam...
Morei quase dois anos nos Estados Unidos e não aprendi a escutar e entender inglês. Falar eu ainda falo direitinho, mas não entendo. Agora já desisti de tentar, mas se eu soubesse entender eu poderia manter um diálogo, quem saber conseguir ser entrevistado pelo David Letterman, de quem eu fui vizinho em Westport e com quem troquei algumas frases, num bar, bebendo um chocolate quente, numa véspera de Natal e senti que ele gostou de ter conhecido um comediante brasileiro, etc, etc... que era eu. Mas não consigo entender os diálogos de um filme. Sempre tento, mas não consigo.
Skate, surf, motocicleta, asa delta, ultraleve... essas coisas não me dizem nada, mas já imaginou se eu pudesse chegar numa pista de gelo, enfiar dois dedos na boca e soltar um assovio, uma mulher, craque na patinação, atender a este chamamento, eu segurá-la e sair dançando com ela, sobre os patins, enquanto, em inglês íamos nos comunicando?
Como se diz em Minas:
- Era um trem danado de bão, sô."
Chico Anysio ( no seu blog)
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