novembro 08, 2008

BARROCO MINEIRO

"Vila Rica não é Florença, pedra-sabão não é mármore e Aleijadinho não foi Michelangelo. Ainda assim, o esplendor e o requinte, as sutilezas e a suntuosidade das dezenas de estátuas, pias batismais, púlpitos, brasões, portais, fontes e crucifixos permitem supor que o Brasil teve um gênio renascentista desgarrado em plena efervescência de Minas colonial, esculpindo e talhando com o espírito, o fulgor e a grandiosidade dos artistas iluminados. O legado do Aleijadinho - eternizado no interior e nas fachadas de igrejas de Minas Gerais - refulge mais que os minérios que saíram dali para fazer o fausto de nações além-mar."
É comum referências como esta ao Aleijadinho , porém o mito sobre sua vida e obra vem sendo questionado, dentre outros estudiosos, pela pesquisadora Guiomar de Grammont (Aleijadinho e o aeroplano – O paraíso Barroco e a construção do herói colonial). .
Segundo GG, o “personagem de ficção” Aleijadinho seria uma espécie de Quasimodo tropical, criado e recriado de forma fantasiosa desde sua primeira biografia, escrita por Rodrigo José Ferreira Bretãs em 1856, vinculada a um ideal romântico típico da época.
Não se detendo apenas no questionamento biográfico,(sua paternidade e se ele seria tão deformado, já que não existem provas de sua doença, ou do impacto que ela teve no seu trabalho), a pesquisadora investiga como, em momentos diferentes da História, esse retrato foi retocado para atender a interesses diversos.
Dessa forma, o Aleijadinho dos viajantes europeus, que nem consideravam arte o que ele fazia, é bem diferente daquele dos modernistas dos anos 20, que o moldaram de forma a encarnar a imagem do Brasil que eles defendiam – e também daquele promovido pelo Estado Novo de Vargas, com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1937.
Por outro lado, afirma que inúmeras obras são atribuídas a Aleijadinho de forma equivocada, boa parte das estátuas teriam sido feitas, na verdade, por seus aprendizes. (ele precisaria ter vivido três vezes para conseguir realizar tudo que leva seu nome) e contesta os processos atuais de análise e atribuição de obras do período, que aplicam conceitos de autoria, estilo e originalidade que sequer existiam na época.
Seja como for, vale a pena ir à Minas para ver as maravilhas do barroco brasileiro ou clicar no título da postagem para uma visita guiada, com direito a boas "esticadas" nos links que se encontram ao final.

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