"Todas as mulheres do mundo deveriam fazer um minuto de silêncio em homenagem a Yves Saint Laurent. Foi ele quem fez a moda explodir em novas formas poéticas e atitude libertadora, numa época em que uma série de restrições ainda controlava o vestuário feminino.
Ele foi um garoto-prodígio, um gênio incomparável da moda. Mas foi, principalmente, um homem de seu tempo, que não ficou indiferente às rebeliões dos costumes e da cultura que começaram a eclodir no final dos anos 1950 e espalharam-se pelos anos 60.
Desde a sua primeira coleção para a Dior, em 1957, com os famosos vestidos trapézio, Saint Laurent não cessou de ampliar a poética e os horizontes da moda.
Introduziu o estilo beatnik e a pop art nas roupas, reelaborou grandes artistas modernos nos vestidos, como Mondrian, explorou pioneiramente a iconografia africana, criou o revolucionário smoking feminino e, quando as calças compridas ainda eram consideradas vulgares, as propôs como traje elegante, para o dia e para a noite.
Saint Laurent também foi um dos pioneiros do prêt-à-porter -esta adaptação da alta-costura para a produção industrial em série- e do licenciamento de produtos com seu nome.
Era um homem culto e cultivado, que amava a poesia e as artes. Fez várias coleções inspiradas na obra de artistas plásticos, como Picasso, Van Gogh, Braque e Matisse. Também criou figurinos para o teatro, o balé e o cinema.
Era o mais cinéfilo dos estilistas, na opinião do diretor François Truffaut -para quem Saint Laurent desenhou as roupas do filme "A Sereia do Mississippi" (1969). Foi o figurinista de Alain Resnais em "Stavisky" (1974) e "Providence" (1976). E também vestiu a sua musa Catherine Deneuve em "A Bela da Tarde" (1967), de Luis Buñuel. Em 2002, Saint Laurent reuniu a imprensa em Paris para anunciar a sua despedida da alta-costura (ela já deixara há alguns anos de fazer o prêt-à-porter).
Foi um momento histórico, que selava o final da idade de ouro da moda francesa. Por isso mesmo, uma multidão de jornalistas e amigos se aglomerou na maison na avenida Marceau, hoje transformada em fundação.
Vestido de terno preto, com gestos medidos e a voz titubeante, ele citou Rimbaud, dizendo-se próximo dos "fabricantes do fogo", incluiu-se na "família dos nervosos" de que falava Proust, pediu desculpas pela falta de modéstia e afirmou, com toda justiça: "Criei o guarda-roupa da mulher contemporânea, participei da transformação de uma época"..
ALCINO LEITE NETO - Editor de moda da Folha
Um comentário:
Eita que o blog tá massa! Bjão.
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