"Entre os chineses, o limão é o símbolo da morte".
A velhice está longe de poder ser considerada a fase da vida em que se encontra serenidade. Sempre acreditei que a "inadequação" dos velhos decorria do fato de serem tão guiados pela emoção quanto os jovens. E eis que encontro, em outras palavras, esta afirmação nos contos de Julien Barnes, da coletânea Um toque de limão.
Seus personagens são velhos cientes de que o auge de suas vidas já passou há muito tempo.Suas preocupações giram em torno do testamento, escrevem cartas para serem lidas após sua morte e explicam aos filhos o que deve ser feito com suas cinzas, embora existam alguns que ignoram a proximidade do fim e/ou estão senis demais para saber que vão morrer em breve.
O tema central dos contos, à primeira vista, pode parecer azedo, no entanto trazem toques de humor e filosofia. Como a proximidade da morte costuma fazer as pessoas refletirem sobre o passado, os contos também tratam de arrependimento, do que deixou de ser dito, do tempo perdido, das constatações tardias, do que valeu e do que não valeu a pena e da lucidez.
Entre fracassos, perdas e frustrações, há momentos gostosos, "quando o limão vira uma fresca limonada". Em “O Cercado das Frutas”, um filho narra a história dos pais: a mulher octogenária que descobre que o marido, também na casa dos 80, tem uma amante de 65. Já “Vigilância” é um divertido relato de um maluco apreciador de música clássica que castiga os que tossem ou fazem barulho durante os concertos.
As estórias são bem boladas e bem escritas. Não resta dúvida porém, de que o tema da coletânea pode ser incômodo para quem não encara a velhice como uma fase incontornável do viver.
Para estas, o toque de limão pode não cair muito bem, mas eu vou continuar falando do "Medo Dela" e de tudo o mais que tiver vontade, desafiando convenções e transgredindo as regras...Ou não seria eu!
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