outubro 31, 2012

O Livreiro de Cabul


Este livro é uma ótima referência para se entender um pouco a cultura do Oriente Médio. Um romance-reportagem, da jornalista norueguesa Asne Seierstad (leia a entrevista) que compôs um retrato das contradições e da riqueza do Afeganistão.
Vivendo, durante três meses, em contato com a cultura do povo após a queda do regime Talibã, a autora morou na casa do próprio livreiro que inspirou o personagem do título e se comunicou com algumas outras pessoas, embora poucas falassem em inglês. Compartilhando seu dia-a-dia com olhos atentos e um bloquinho de anotações na mão, sob o anonimato da burca, circulou por lugares públicos e conheceu a realidade dos extremos de pobreza e de riqueza dos poderosos. 
Este cenário é o pano de fundo da vida do livreiro que luta contra as 'forças invisíveis' de Cabul para levar a literatura aos cidadãos de sua cidade. Ele acreditava que todos tinham direito de conhecer os livros para formar opiniões particulares sobre a vida. Pelas regras do Talibã, livros de todas as partes do mundo, que tratassem de religiões, sexo, comidas, governos e fantasia eram censurados e queimados no meio da rua, como forma de 'lição'.
Numa narrativa que mostra aspectos que poucos estrangeiros testemunhariam, a autora,  como ocidental, mulher e hóspede de um livreiro de Cabul, obteve o privilégio de transitar entre o universo feminino e masculino de uma sociedade islâmica fundamentalista.
Embora tivesse sido preso e torturado durante o regime comunista, sua livraria invadida e parte dos livros queimados, o livreiro  alimentava o sonho de ver seu acervo de 10 mil volumes, sobre história e literatura afegã, transformar-se no núcleo de uma nova Biblioteca Nacional.
Apesar da situação estável, a família do livreiro, com quem viveu a autora,  dividia uma casa de quatro cômodos em uma cidade que se recuperava da guerra e de trágicos reflexos políticos. Os integrantes da família acostumaram-se à sua presença  sob uma burca. Assim, ela pôde observar as rixas do clã, a exploração sexual das jovens viúvas, a adúltera sufocada com um travesseiro pelos  irmãos sob as ordens da mãe, o exílio no Paquistão da primeira esposa do livreiro, após seu segundo casamento com uma jovem de 16 anos, o sofrimento  do filho adolescente do livreiro obrigado a trabalhar 12 horas por dia sem chance de estudar.
Observa-se que o  livreiro, mesmo sendo um homem de letras, é um tirano na orientação familiar e nos negócios. Indignado com o trabalho da autora, o livreiro de Cabul que inspirou o personagem foi à Noruega com o propósito de pedir reparação judicial.

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