"- Tens medo de fazer amor comigo?
- Tenho - respondeu ele.
- Por eu ser preta?
- Tu não és preta?
- Aqui, sou.
- Não, não é por seres preta que eu tenho medo.
- Tens medo que eu esteja doente...
- Sei prevenir-me.
- É porquê, então?
- Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti." (fls 105/6)
Bartolomeu Sozinho é um velho mecânico naval moçambicano,aposentado do trabalho, mas não dos sonhos ardentes e dos pesadelos ressentidos que elabora em seu escuro quarto de doente terminal. Ele é atendido por Sidónio Rosa, médico português que partira para a enevoada Vila Cacimba, em Moçambique, em busca da mulata Deolinda, por quem se apaixonara em Lisboa. Deolinda está misteriosamente desaparecida. Só resta ao médico cuidar do velho pai doente de sua amada. A névoa (cacimbas quer dizer neblinas) envolve os relatos das vidas feitas de mentiras e ilusões que tornam difícil diferenciar o sonho da realidade.
TV Estadão: sobre o livro do MIA COUTO
Resumo escrito por:TCoutinho
O jovem médico portuuguês Sidónio Rosa, perdido de amores pela mulata moçambicana Deolinda, que conheceu em Lisboa num congresso médico, deslocou-se como cooperante para Moçambique em busca da sua amada. Em Vila Cacimba, onde encontra os pais dela,espera pacientemente que ela regresse do estágio que está a frequentar algures. Mas regressará ela algum dia?
Entretanto vão-se-lhe revelando por entre a névoa que o cobre, os segredos e mistérios, as histórias não contadas de Vila Cacimba - a família dos sozinhos, Munda e Bartolomeu, o velho marinheiro, o administrador Suacelência e sua Esposinha, a misteriosa mensageira do vestido cinzento espelhando as flores do esquecimento.
Um comentário:
O que mais nos aterroriza nos relacionamentos é exatamente como ficaremos quando chegar o momento da partida, que dimensão terá a dor da separação? Muitas pessoas evitam se entregar, mergulhar, por medo de não suportar as crises de abstinência provocadas pela ausência daquele (a), cuja presença é sinônimo de bem estar.
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