novembro 15, 2009

13 de novembro de 1982

No último dia 13, antes de ontem, montei um slide show com imagens de mães, 'na arte e na vida'. Não sei se alguém viu. Nem se vendo percebeu algum significado. Creio que não . Como quer que tenha sido, agora ficam sabendo: naquele dia eu estava fazendo aniversário. Comemorava o dia em que me tornei mãe. Esta trajetória biológica, social, psicológica ou tudo isto junto, que nos leva a, num dado momento, pensar em ter filho, pode parecer, para alguns, meio banal. Afinal, o ato de procriar acontece com uma certa frequência no reino animal. Porém, ser mãe não é a mesma coisa que, simplesmente, ter um filho. Ser mãe é uma experiência transformadora. Nenhuma mulher que é mãe continua a mesma. Vi esta transformação não só em mim. É claro que, dentre as mulheres, sempre há aquelas para quem um bebê vem completar a mobília doméstica. São as que casaram porque ' estava no tempo', porque fica mais difícil depois dos 30 ou porque as amigas da faculdade já casaram, enfim...Essas têm filhos. Não foi o meu caso, pois quis ser mãe acima de qualquer coisa. E foi assim que me tornei uma pessoa melhor.
Quando minha filha ainda era um 'pacote' no berço, com aquela carinha indecifrável de joelho, descobri em mim uma energia e uma generosidade que deviam estar bem escondidas até ela nascer . Por outro lado, a maternidade me fez mortal e atenta. Passei a temer por tudo que me pudesse acontecer, enquanto ela não pudesse sobreviver sozinha .Busquei, incansavelmente, a coerência entre idéias e atitudes, a medida certa para o equilíbrio entre o ' bater e o assoprar', permitir e negar, prender e soltar. Fiz por onde manter os fios da amizade e da confiança sempre a nos ligar, a fim de que pudessem ser puxados se, ou quando, fosse necessário.
Queria explicar-lhe o mundo e poupá-la de aprender ' quebrando a cara' . Isto a que chamam de 'experiência própria' não queria para ela. Quando me perdia, tinha dúvida ou me desesperava, dizia para ela:' me desculpe mas estive num curso de preparação para fazer tudo que fiz ou faço, mas para ser mãe não tem curso, nem você veio com manual de instrução...posso estar cometendo os piores erros, mas não sei de outro jeito.'
Claro que ela não sabia de que eu falava, como não entendia outras tantas coisa que comecei a explicar para ela ' antes da hora' (na dúvida quanto a hora, tinha medo de me atrasar) . Lembro que a partir de um momento, não sei qual, comecei a fazer com que ela tivesse consciência de que, sendo mulher, ia ter que ser muito boa em qualquer coisa que resolvesse fazer, mas ia ter que provar isto todo dia. Falei-lhe do leão que ia ter que ser morto, enquanto os seus pares, do sexo masculino, talvez se permitissem até ser medíocres....
Quando afirmo que a maternidade é transformadora é também por nos levar a cometer estes disparates, na vontade de acertar e de proteger a cria.
Foram tantas as coisaas que aprendi por ser mãe que fico pensando no quanto esta dívida é impagável. Por mais que a encha de beijos e totinhas....

4 comentários:

Anônimo disse...

Muuito bonito, queridas.

WB

Ricardo Rocha disse...

Zelia

Quem caminhou junto a vocês, com certeza, percebeu o significado das fotos. Como esquecer esta data e o dia 17 próximo? Parabéns "duplos"!
Grande abraço com saudades.

Ricardo e Thereza

Anônimo disse...

PARABÉNS PELO TEXTO!

Valéria Santos disse...

Belíssimo texto Zelinha, você consegue expressar em palavras as angústias, inquietações e emoções do SER mãe. Garanto a você, por experiência própria, que o amor e atenção que dedicamos aos filhos nossos, independem dos vínculos consanguíneos, simplesmente os amamos.Estou devendo a foto.