setembro 20, 2009

Alegria monitorada

E se alguém ler? Foi esta a razão que me levou a não comentar. Passados alguns dias e considerando as estatísticas: quem ler blog não vai além da página incial...Me arrisco.
Tenho ido a várias festas de aniversário. A maioria de pessoas que, tendo rompido a barreira dos setenta, se 'descobre' tendo o que comemorar. Não bastasse estarem com filhos, netos e bisnetos fora de suas responsabilidades, podem se valer do que existe disponível para garantir a tal 'qualidade de vida' que, em última análise, é a busca que ainda persiste. No mais, está tudo resolvido. Fizeram o que tinha de ser feito. Se não fizeram ou não fizeram direito, sabem que não adianta chorar o leite derramado. Valoriam o fato de estarem vivos! Alguns me criticam por não considerar plena a vida depois de uma certa idade. Insisto que estou certa. Não se pode considerar completa uma vida em que falta sonhos. Por estas alturas, começo a temer pela sanidade dos que continuam ' sonhando'. Seria algum estágio incial de senilidade ou coisa que o valha? Entre as mulheres me parece mais grave... Minha conclusão não é à toa . Dizer aos 75 anos: “....se eu tiver de me casar não vou querer um homem que .....”. Outras fazem projetos para o futuro. E não são projetos do tipo ir para Portugal na primavera. Vejo-me obrigada a acordá-las: “ Ei, já chegamos” . Tento adverti-las de que aquele 'futuro' que nos parecia distante não só chegou como está passando. Acorde, não terá outro mais tarde. Acabou. Vamos aproveitar a festa antes que a orquestra pare de tocar.
Comecei falando das festas para registrar a incapacidade de as pessoas se divertirem por conta própria. Ninguém faz mais uma festa com a sua própria cara, contrata uma empresa de eventos! Na chegada a gente já percebe a frieza. Uma tropa impessoal (invariavelmente de preto) confere se o seu nome está na lista, recebe o presente ( o identifica, se não tiver cartão) e , em certos casos, indica a sua mesa...
Não é saudosismo mas bom mesmo era o tempo que a gente abraçava o amigo, entregava o presente que era aberto ali mesmo e gerava toda sorte de comentários. Às vezes, mais de um tinha a mesma idéia e os presentes eram repetidos, enfim.....Ali a festa já ia começando.
Hoje, com todo o 'cerimonial' a ser seguido ( inclusive pelo próprio aniversariante que pagou por ele) não se acende a alegria. Tolhidas, as pessoas se tornam incapazes de se divertir. A 'diversão' para acontecer precisa ser provocada por um 'especialista' que faz parte do ' pacote' contratado.
Por que não deixar que as pessoas continuem a conversar, dançar e circular?
Para mim, contratar alguém para divertir e animar uma festa é uma declaração de falência da espontaneidade. Não me divirto nem um pouco. E, vamos combinar, o reencontro de velhos amigos dispensa shows de humor, brincadeiras ensaiadas com textos e performances de gosto discutível, para não dizer abaixo do suportável.
Olhando em volta, percebo irritada haver quem pareça se divertir.
Estou ficando cada vez mais chata!

2 comentários:

Anônimo disse...

Não é questão de estar ficando [mais] chata, não, minha amiga! O povo é que não quer mais ter imaginação e, o que ainda é pior, somente segue o que as "leis do mercado" [que coisa mais cafona, ainda mais eu que não sou adepto de nenhum dos -ismos!!] pregam, pois, se a festa não for num restô da moda ou, na maioria das vezes, num buffet renomado, aí não valeu. Eu, que aniversario no dia do "Outro", continuo fazendo minha festinha pequenininha na minha casa, com um grupo bem diminuto, mas que me abraça pessoalmente e é recebido também com abraço, beijo, comida feita por mim, bebida servida por mim, enfim, sou das antigas, ou melhor, insisto em ser normal....como antigaamente se fazia! Beijos do
TL

Valéria Santos disse...

Você não está ficando mais chata, até porque você não é chata, chata é esta formalidade imposta pela sociedade "burguesa" nos momentos que deveriam ser de pura descontração, hoje qualquer comemoração deve ter status de festa de debutante...Chato é não podermos abraçar com toda euforia nosso amigo aniversariante na chegada, senão quebrará o PROTOCOLO...Beijos
Valéria