
O mundo segue assim: se não toca o nosso, toca o do vizinho, o que algumas vezes importa num incômodo ainda maior. O certo é que ele se infiltrou de modo espantoso em nosso mundo e parece que não dá para viver sem ele. Parece.
No meu novo trabalho, apenas um dos meus colegas não era conhecido/ amigo. Já descobri ter muito o que conversar com ele, fora dos assuntos de trabalho, trocas interessantes...Apesar de minha carência de interlocutores ser inegável, será com ele que vivenciarei a experiencia de não estar conectada.
Segundo a psicanalista com quem tenho encontro marcado às quinta-feiras (no Equilíbrio da FSP) esse estado de permanente disponibilidade afeta não só a estruturação de nossa intimidade como também a expressividade. Enquanto, na era pré-celular, estávamos “conectados” durante algumas atividades, depois nossa mente tinha folga para elaborar, agora, tudo se sobrepõe à eterna possibilidade de sermos encontrados e nossa 'elaboração', essência do humano, vai minguando.
Outra observação interessante feita pela psicanalista ANNA VERONICA MAUTNER é a de que “ O exercício de esperar - algo essencial para que se institua o espaço do pensamento- é afetado pelo aparelho. Enquanto esperamos, fantasiamos e pensamos. Quando sentimos falta de uma pessoa, surge a centelha que dá espaço para o imaginário. Tendo tudo a tempo, não pensamos. Esperar põe em contato o que se percebe e a memória e é o passo inicial para um dos primeiros "insights" da vida: saber se algo é conhecido ou não.”
Este mergulho na instantaneidade dos contatos, decreta o fim da saudade. Tudo está ali no celular, ao alcance de um gesto...
Um comentário:
Um dia, dentro de uns poucos anos, eu abandonarei o meu aparelho celular.... Pra sempre... Falta pouco.... Eu não só odeio celular, mas também telefone comum.... Claro, é sempre bom ter um por perto, portanto, ficarei com o velho telefone comum, o qual nao pode me acompanhar quando saio de casa.... E saio muito... Falta pouco, muito pouco, pouco mesmo.... Será um adeus sem saudades....
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