julho 20, 2009

desconstruindo

Um celular é muito mais do que um simples telefone. Não me refiro ao fato de os modernos aparelhos oferecerem outras utilidades : fotos, músicas, videos etc...mas ao modo como se introduziu em nossas vidas. Tenho visto serem mantidos celulares específicos para os diversos tipos de contatos. Eu mesma, no momento, tenho dois. Por um deles devo ser alcançada para assuntos de trabalho. Há quem tenha um número de celular para uso somente nos fins de semana. Outros filtram as chamadas pelo som. Ouvi o tema do assustador 'plantão globo' no celular de uma amiga para as chamadas do filho! Hoje pela manhã fui avisada – através de torpedo: estou desligando o celular por algumas horas.
O mundo segue assim: se não toca o nosso, toca o do vizinho, o que algumas vezes importa num incômodo ainda maior. O certo é que ele se infiltrou de modo espantoso em nosso mundo e parece que não dá para viver sem ele. Parece.
No meu novo trabalho, apenas um dos meus colegas não era conhecido/ amigo. Já descobri ter muito o que conversar com ele, fora dos assuntos de trabalho, trocas interessantes...Apesar de minha carência de interlocutores ser inegável, será com ele que vivenciarei a experiencia de não estar conectada.
Segundo a psicanalista com quem tenho encontro marcado às quinta-feiras (no Equilíbrio da FSP) esse estado de permanente disponibilidade afeta não só a estruturação de nossa intimidade como também a expressividade. Enquanto, na era pré-celular, estávamos “conectados” durante algumas atividades, depois nossa mente tinha folga para elaborar, agora, tudo se sobrepõe à eterna possibilidade de sermos encontrados e nossa 'elaboração', essência do humano, vai minguando.
Outra observação interessante feita pela psicanalista ANNA VERONICA MAUTNER é a de que “ O exercício de esperar - algo essencial para que se institua o espaço do pensamento- é afetado pelo aparelho. Enquanto esperamos, fantasiamos e pensamos. Quando sentimos falta de uma pessoa, surge a centelha que dá espaço para o imaginário. Tendo tudo a tempo, não pensamos. Esperar põe em contato o que se percebe e a memória e é o passo inicial para um dos primeiros "insights" da vida: saber se algo é conhecido ou não.”
Este mergulho na instantaneidade dos contatos, decreta o fim da saudade. Tudo está ali no celular, ao alcance de um gesto...

Um comentário:

Anônimo disse...

Um dia, dentro de uns poucos anos, eu abandonarei o meu aparelho celular.... Pra sempre... Falta pouco.... Eu não só odeio celular, mas também telefone comum.... Claro, é sempre bom ter um por perto, portanto, ficarei com o velho telefone comum, o qual nao pode me acompanhar quando saio de casa.... E saio muito... Falta pouco, muito pouco, pouco mesmo.... Será um adeus sem saudades....