"Desde criança fui acostumado a ver os judeus sob duas óticas. A mais antiga estava ligada ao cristianismo conservador que atribuía, erroneamente, a morte de Jesus Cristo aos judeus. Daí o verbo que ainda hoje empregamos no Nordeste: "deixe de judiar com essa criança!". A outra visão, construída a partir do holocausto, mostrava figuras esquálidas de judeus depositados em campos de concentração nazista. Seres humanos reduzidos a farrapos. Desastradamente despedaçados pela ira de Hitler e seus seguidores... As fotos ainda hoje chocam a consciência humana: como é que aquilo foi possível?
Agora, sou tomado de igual surpresa diante da barbárie cometida – pelos mesmos judeus? – em relação ao povo palestino. O olhar desesperado de crianças sendo perseguidas pelos destruidores foguetes israelenses. O grito dilacerado de mães aflitas..
Será que a humanidade não mudou? Será que o ser humano é mesmo mau? O silêncio, quase cúmplice, das grandes nações chega a ser insultante. Por que nos calamos?
A argumentação mais imediata seria a de afirmar que os árabes também praticam iguais atrocidades... Ora, não estou interessado nas razões geopolíticas que possam motivar essas atitudes. A única evidência, que dilacera a humanidade, é a de que o ser humano mata intencionalmente o ser humano. Que as diferenças não podem ser resolvidas numa mesa de negociação, com diálogo e tolerância.
Essas bombas e foguetes, que caem dos dois lados, são atestados contundentes que ainda precisamos evoluir muito para chegar à condição de humanos. Não, esse combate não é glorioso, nem sábio. Nem mesmo uma defesa. Nem caminho para a justiça. A morte não pode ser a contabilidade possível das diferenças entre seres humanos...
Isso é o retorno à barbárie..."
Antonio Mourão Cavalcante - Médico e antropólogo.
O Povo -10 Jan 2009
2 comentários:
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Lala
Os judeus super ortodoxos (apoiados por uma nação norte-americana cada vez mais decadente) realmente não aprenderam a lição e tentam impor aos palestinos as mesmas atrocidades que alguns deles ou seus seus pais e/ou avós sofreram. Não merecem nenhuma admiração, mas sim desprezo. TL
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