dezembro 13, 2008

R A S T R O

Sob o título de Presas Fáceis , Joyce Pascowitch (a revista) traz relatos de casos de pessoas de bem que não sairam em boa companhia...
Dentre eles Aparício Basílio da Silva "Um gentleman"
"O segredo é surgir, sorrir e sumir”, este era o ditado de Aparício Basílio da Silva, um dos homens mais elegantes, talentosos e antenados que São Paulo já teve. Não era raro vê-lo em mais de uma festa na mesma noite – e nas colunas sociais dos dias seguintes figurava sempre. Suas festas, antológicas. E o apartamento tríplex na rua da Consolação, entre a Oscar Freire e a Estados Unidos, de extremo bom gosto. Sabia compor um mix de convidados como ninguém. Em uma mesma ocasião podia-se ver reunidos Lucía Curia, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Malzoni, Tonia Carrero, José Duarte Aguiar, Severo Gomes, Vinicius de Moraes, Christiana Neves da Rocha, Rosita Thomaz Lopes, Tarso de Castro e Consuelo Leandro. Todos entrosadíssimos.
Quem foi Aparício? Bom, para os poucos que não sabem, Aparício Basílio da Silva nasceu em São Paulo, no dia 12 de dezembro de 1935, em casa, na rua Sena Madureira. Filho mais velho do senhor Antonio, corretor de imóveis, e de Virgília, dona de casa e cozinheira de mão cheia, fez o primário no Assis Pacheco e seguiu para o Caetano de Campos. Tinha o maior xodó pela irmã temporã, Maria Helena, oito anos mais nova. Artes, adorava, e, danado, aos 15 anos foi monitor da primeira Bienal, em 1951. Aprendeu inglês sozinho e chegou – anos mais tarde – a publicar mais de um livro nessa língua.
Além disso, era escultor, pintor, crítico de arte e estilista. Com uma sócia, foi um dos primeiros a ter uma butique, a Rastro, na rua Augusta. A loja virou moda e só era freqüentada pelos “prafrentex” – os modernos de hoje. Ao fim do dia, todos os amigos iam para lá. Alguns anos depois, realizou seu maior sonho: produzir uma colônia brasileira sofisticada, que levou o nome da butique. Surgia então a Rastro, cujo frasco já era arrojado e a fragrância sofisticada. Fez fortuna. Um verdadeiro self-made man.
Aparício também deu um up, mais do que necessário, ao Museu de Arte Moderna, MAM, quando assumiu a presidência do museu em 1983, cargo em que ficou até 1992. Homem de visão, na mocidade, quando viu que a pintura não iria lhe conceder o que queria, tornou-se um colecionador. Nas paredes do apartamento, Volpi, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Aldemir Martins e Carlos Prado. Anos e anos mais tarde, criou uma galeria de arte em sua loja, onde Pinky Wainer fez sua primeira exposição.
O closet dele sempre rendia matérias de revistas. Transbordava Gucci, que, às vezes, vestia da cabeça aos pés. Ternos azul-marinho e óculos, suas marcas registradas. Sua elegância sempre foi propagada em verso e prosa. Sagitariano, com rodinha nos pés, não parava: projetos mil e viagens, quatro vezes por ano, ao exterior.
Alto, 1,87 metro – sempre bronzeado e trepidante – arrebatava corações, mas teve em Walter Zaniratto um bom companheiro por mais de uma década. Em português bem claro: Aparício era um gatão em qualquer idade, um homem ao estilo de Cary Grant e Sean Connery – bonito, independentemente da estação da vida.
Não freqüentava a noite gay, não gostava e tampouco sabia seus códigos, malícias e roubadas. Numa noite resolveu ir à boate Rave, na rua Bela Cintra, a mais badalada da cena homossexual na época. Saiu acompanhado. Bem mal acompanhado. Além do rapaz, um casal os esperava do lado de fora da boate.
Ele foi encontrado com 97 facadas e tesouradas num terreno baldio em São Bernardo do Campo, em agosto de 1992. Os assassinos foram presos em menos de dez dias – um deles já está morto – e a amizade de Aparício com o poder e a imprensa contribuiu muito para o desfecho rápido do caso. Sua morte brutal horrorizou o hi-society paulistano. Seu corpo foi velado no MAM."

Por Renato Fernandes, do RJ (o link clicando o título)

2 comentários:

czarnpg disse...

o final do texto tem algumas imprecisões. Demorou mais de 10 dias para a investigação. os 3 assassinos estavam na boate.

Daniel disse...

ótimo texto... Tu conheceste o Aparício?