Dos inúmeros textos com autoria falsa ou duvidosa que circulam neste mundo virtual, Sheakspeare, Mário Quintana, e o L.F.Veríssimo talvez sejam as maiores vítimas. A propósito disto, ouvi dele (num "café literário" onde além de conversar, se apresentou tocando jazz), que havia sido paraninfo de uma turma de Comunicação Social que fizera imprimir no convite um texto cuja autoria lhe era atribuída. Segundo ele, para não estragar a festa, "deixou para lá".
Mas este é um autêntico Luis Fernando Veríssimo
"Se uma memória restou das festinhas e reuniões de familiares da minha infância, foi a divisão sexual entre os convivas: mulheres de um lado, homens do outro. Não sei se isso, hoje, ainda ocorre.Sou anti-social a ponto de não freqüentar qualquer evento com mais de 4 pessoas, o que me descredencia a emitir juízo. Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos. Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto, observando a paisagem. Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatômicas: a fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades.
Explico: no córner masculino imperava o embate das comparações e disputas. Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna, meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite e outras cascatas típicas da macheza latina.
Já no córner oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir. Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava. Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. Discordo. Destas reminiscências infantis veio a
minha total e irrestrita paixão pelas mulheres.
Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, freqüentando e levando bomba no bê-a-bá da vida, as mulheres já chegam na metade do segundo grau. Qualquer menina de 2 ou 3 anos já tem preocupações de ordem prática. Ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. Ela pede uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já chega sabendo. E o que não sabe, intui.
Já com os homens a história é outra. Você já viu um menino dessa idade brincando de executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estar preocupados com a entrega da declaração do Imposto de Renda? Não, nunca viram e nem verão. Porque o homem nasce, vive e morre numa existência juvenil. O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos! E aí reside a maior diferença: o que para as meninas é treino para a vida, para os meninos é fantasia, é competição, fuga. Falo sem o menor pudor. Sou assim.Todo homem é assim.
Em relação ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia. Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo menos em algum detalhe. É só saber olhar. Todas têm sua graça. E embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones do cafajestismo, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim.
Incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem. Porque toda mulher acredita firmemente na possibilidade do homem ideal. E esse é o seu único defeito!"
2 comentários:
E os muitos textos e frases atribuídos a Oscar Wilde? Dentre outros autores, claro! E o pior é que a patuléia orkutiana, p.ex., acredita em tudo porque segue os "desensinamentos" de nosso Mandarim-Mor (sigh! sniff! ó Céus!), ou seja, é despreparada intelectualmente. E o modelo do Grande Molusco vai ficar para sempre: "não estude, para um dia virar presidente! Zélia, agora tenho de ir "fazer as coisas" antes de "ir pra cidade". De gros bisous de ton cousin de Fátima!!!
Triste constato: sou uma incauta!
Fazer o que?... minha instintiva maternidade me empurra a amar esta infantilidade e "insouciance" masculina.
Bia
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