Na minha casa sempre teve máquina de escrever. No tempo em que eram manuais e pesadas. As elétricas só apareceram muito depois e as esféricas - que também são peças de museu - são de "ontem"! Sou muito mais antiga do que tudo isto. Mas, voltando.Não lembro se tinha autorização para usá-la.Como quer que tenha sido, “brincar de escrever” fez parte de minha infância. Fui descobrindo sozinha como funcionava. A fita, que ficava num carretel, tinha a metade de cima preta e a de baixo vermelha. Na gaveta da mesinha, onde ela ficava, se guardava um vidrinho com um líquido que era usado para umedecê-la. Ainda sou capaz de reconhecê-lo pelo cheiro. Foi sozinha que aprendi como escrever em vermelho, usar letras maiúsculas, acentos etc... o que deve ter me tomado horas. Mas na infância, o tempo se mede de forma diferente...
Na máquina havia uma pequena manivela para rebobinar, automaticamente, a fita. Até descobri-la eu fazia manualmente. Brincava de escrever em duas vias usando carbono que também tinha um cheiro característico, era preto e sujava não só as mãos, mas o papel em que se pretendia escrever.Tinha o lado certo para ser usado. Demorava fazendo os testes. Se errasse o lado, não copiava, apenas fazia uma sombra no avesso da primeira via (o "original" de hoje). A brincadeira acabava quando os tipos se enganchavam. Era o momento de largar e sair de mansinho...
Mais tarde, me dei conta de que nem todo mundo tinha familiaridade com máquina de escrever. Para aprender a usá-la faziam um curso de datilografia, recebiam um diploma que, às vezes, era exigido quando se candidatavam a certos empregos. Foi quando soube que haviam regras estabelecendo com qual dedo determinada letra devia ser "teclada". Conseguem imaginar? A minha aprendizagem se deu, naturalmente, como acontece nos tempos atuais. Alguém já ouviu falar em curso para aprender a “teclar”?
Não é a primeira vez que esta lembrança me ocorre. Ano passado, antes de ter o blog (já tenho estórias pré e pós blog) li este texto sobre o @. Quanto tempo que conheço este símbolo! Sempre esteve no teclado das máquinas de escrever, mas não havia uma utilidade para ele .
Agora, deparei-me, casualmente - pós blog - com o mesmo texto sobre a sua origem.
Vejam se não é curioso!
"Os livros na Idade Média eram escritos pelos copistas à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido. O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir letras, como "m" ou "n", que nasalizava a vogal anterior. Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jesus Christi Pater Putativus", ou seja, o pai putativo de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP". A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras : &. Esse sinal é popularmente conhecido como "e comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and (e em inglês) + per se (do latim por si) + and.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de".
Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço - por exemplo: o registro contábil "10@£3" significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma". Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido em inglês como at (a ou em).
No século XIX, nos portos da Catalunha, o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso. Para o entendimento contribuíram duas coincidências:
1 - a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo;
2 - os carregamentos desembarcados vinham freqüentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de "10@£3" assim : "dez arrobas custando 3 libras cada uma". Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte": arroba (15 kg em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe quintar), o quintal (58,75 kg).
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1872, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido "@" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim "Fulano@Provedor X" ficou significando "Fulano no provedor X".
Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma, em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários países europeus."
Reinaldo Pimenta
PS: para os franceses arobase.
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