julho 08, 2008

ESPELHO

Sou prateado e exato.
Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for,
desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel,
apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus,
de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada.
Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração.
Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
Agora sou um lago.
Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas,
as velas ou a lua.
Vejo suas costas,
e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela.
Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina,
e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia,
como um peixe terrível.
Sylvia Plath
traduzido por André Cardoso

* * * * * * * * *
MULHER AO ESPELHO

Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meireles

Um comentário:

Anônimo disse...

MARAVILHOSA CECILIA MEIRELES!
VERDADEIRA, DELICADA E ...CERTEIRA!

Lala