julho 08, 2008

O CONTO DO AMOR


"Pena, não tivemos tempo para falar", foi a queixa que sempre acompanhou as despedidas de Contardo Calligaris de seu pai Giuseppe, morto em 1995.
Perto de morrer, ele faz ao filho uma revelação, em tom de confissão: em outra vida teria sido ajudante do pintor maneirista Sodoma (1477-1549).
Somente depois de dez anos o Autor voltou ao assunto e, depois de ler seus diários (escritos entre 1933 e 1994), cartas e pesquisar sobre o maneirismo (seus pintores e ajudantes), parte para a Toscana, levando uma foto do pai, quando este tinha 20 anos.
"O Conto do Amor" inicia com a visita ao convento no Monte Oliveto Maggiore, local onde na sua juventude, seu pai teria intuído que fora ajudante dos pintores Luca Signorelli e Giovanni Antonio Bazzi, o Sodoma, autores dos afrescos que narram a vida de São Bento nas paredes do claustro.
As impressões sobre arquitetura, política, a guerra, especialmente, sobre a Florença de Brunelleschi (1377 - 1446), arquiteto florentino destacado pelo uso da perspectiva de profundidade em suas obras, e o fascismo de Mussolini são contrapontos de realidade à narrativa.
Segundo Contardo, certamente foi uma maneira de passar um tempo com ele na minha cabeça, de revê-lo". "O romance foi escrito a partir da questão "o que eu queria fazer com os diários do meu pai?" .
Entre 2006 e 2007, fez viagens à região da Toscana, para reconhecer o que chama de as "locações" de seu livro e fotografar os afrescos de Sodoma, alguns deles incluídos na edição. Salvo referências à biografia de seu pai Giuseppe, como sua militância antifascista e sua paixão pela arte da Renascença italiana, o autor encontrou na imaginação, numa história de amor, a solução para o enigma deixado pelo pai.
“O primeiro capítulo, em seus detalhes, é total e fielmente autobiográfico”, admite Contardo. “Nunca soube bem o que fazer com aquela estranha ‘confidência’ do meu pai na hora de sua morte. Claro, fui para Monte Oliveto e tudo, mas não achei nada. Nada, a não ser uma ficção. E toda ficção é, quem sabe, um pouco isto: um jeito de continuar um diálogo que ficou truncado na realidade.”
É uma agradável oportunidade de trânsito pela liberdade da arte e da literatura. A liberdade da vida, onde o filho pode entrar com uma outra história na história do pai, refazendo uma experiência com outra experiência. Ao colocar os pés nas pegadas do pai, o filho entendeu muito bem porque ele ficara com a crença de ter vivido em outro mundo. Quem der uma lida no livro vai compreender ainda, o que pode uma semana de amor em tempos de ódio e que muitas vezes as grandes mensagens da vida estão no que não é dito.

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