junho 04, 2008
Reinaldo Arenas
Diante da omissão de seu no artigo abaixo...
" Nascido na aldeia cubana de Holguín em 16 de julho de 1943, Reinaldo Arenas foi, durante anos, a vítima eletiva de Fidel Castro.Sua relação com a revolução cubana, no entanto, nem sempre foi conflituosa. Aos 15 anos, quando Havana foi tomada pelos rebeldes, em 1º de janeiro de 1959, Arenas era guerrilheiro nas tropas de Castro que combatiam o ditador Fulgêncio Batista.
A sua "confissão" de que era homossexual foi interpretada como um rompimento com a ditadura castrista e provocou tamanha irritação entre as autoridades revolucionárias que logo o enviaram para um campo de reeducação da UMAP ( Unidad Militar de Ayuda a la Producción), cujo objetivo era readaptar sexual e socialmente os cidadãos considerados de "conduta imprópria".
Em 1962, quando estudava na Universidade de Havana e trabalhava na Biblioteca Nacional, ainda sob o clima de liberdade cultural, escreveu seu primeiro romance. Participando de um concurso literário conheceu José Lezama, o grande poeta e ensaísta, que se tornou seu mentor e o ajudou, em 1967, a publicar seu primeiro livro "Celestino Antes del Alba" . Quando começou abertamente a perseguição aos homossexuais, Arenas foi declarado "transgressor, anticonvencional, favorável ao direito da livre-expressão e, portanto, antirevolucionário" e como consequência, censurado.Seus manuscritos passaram a ser contrabandeados e eram imediatamente publicados, como a história do sacerdote mexicano Frei Sernamdo Teresa de Mier que, de acordo com a ótica surrealista do cubano, recebeu o título "El Mundo Alucinante" (1968).
Durante toda a década de 70, o único sinal de sua existência foi a edição francesa da obra "El Palacio de las Blanquísimas Mofetas" (1975). Dois anos mais tarde sairiam as edições mexicana e espanhola. Publicar sem a autorização da UNEAC (Unión Nacional de Escritores y Artistas de Cuba ) era um delito. E Arenas o cometeu. A polícia política cubana conseguiu confiscar e destruir algumas de suas obras e Arenas foi declarado apátrida. Já uma celebridade mundial, o poeta enfrentava o veto do Estado em seu trabalho e em sua vida. Mudando constantemente de endereço, trabalhava fazendo biscates para sobreviver.
Sob pressão de cubanos residentes em Miami, a imigração americana fez vista grossa para o êxodo de milhares de indesejáveis: dissidentes, criminosos, doentes mentais e...homossexuais. Mais tarde, o governo revolucionário castrista explicou sua atitude como tentativa de "depurar a sociedade e purificar a pátria."
Já em New York, embriagado de liberdade, Arenas vivia na mesma velocidade com que escrevia. Produziu novelas, histórias curtas, poesia, ensaios, artigos para jornais e peças dramáticas. A experiência desoladora de viver num campo de concentração foi transformada no livro: El Central (1981 ). Mas o preconceito, a segregação, o medo da delacão pelo "delito" de ser diferente e ter uma conduta sexual considerada imprópria, transformaram o fervor revolucionário em desencanto e ressentimento. Em 1987, aos 42 anos e no auge da potência intelectual, recebeu o diagnóstico de Aids. O livro "El Portero", de 1989, testemunha este momento de miséria e marginalizacão. O prólogo de seu livro de poemas "Voluntad de Vivir Manifestandose" sintetiza seu desespero diante da situação".
Antes que anoiteça
Deve fazer uns 9 anos que li este que considero um dos mais pungentes relatos da vida de um artista sob um regime comunista .
O livro é um soco no estômago, nos leva ao centro da sordidez humana e do regime que se instalara e a luta pela liberdade, que, em última análise, é a luta pela vida.
Quando Arenas finalmente alcança a liberdade, conseguindo escapar para os EUA, vive com muitas dificuldades, contrai AIDS e vê sua vida se esvair.
O título do livro está assim explicado: "Eu já havia iniciado, como veremos adiante, minha autobiografia em Cuba. O título era Antes que anoiteça, pois precisava escrever antes que escurecesse, já que eu me encontrava escondido num bosque. Agora, a noite se aproxima novamente de uma forma mais iminente. Era a noite da morte. Agora tornava-se imperativo que eu concluísse minha autobiografia antes que anoitecesse."
Ao ser informado de que contraíra AIDS , saiu do hospital e, chegando em casa, encarou a fotografia de Virgilio Piñera, escritor cubano morto em 79, provavelmente assassinado por ordem de Fidel e pediu:
" Ouça bem o que vou lhe dizer; preciso de mais três anos de vida para terminar minha obra, que representa minha vingança contra quase todo o gênero humano".
Arenas começou a completar sua obra no hospital, agulhas com soros enfiadas em seus dedos causando-lhe dor e dificultando-lhe a escrita. Escreveu sem parar, em casa, quase morto. Sem forças para escrever, ditou a um gravador uma série de fitas e completou sua autobiografia.
Em 1990, quase 3 anos depois de seu pedido à fotografia de Virgilio, Arenas se matou. O livro é forte, denso, desesperado. Tanto nos faz sofrer como nos faz pensar, nos mostra a vulnerabilidade do caráter humano, nos ensina o que é viver permanentemente com o medo, o terror e a solidão.
Nesate relato de sua trajetória não há só dor.
"Minha mensagem não é uma mensagem de derrota, mas sim de luta e esperança" foi a última frase escrita por Arenas, antes da dose fatal de álcool, desespero e barbitúricos. Deixou um "Autoepitafio",onde dizia que "a vida é uma questão de risco ou de abstinência".
Arenas escolheu o risco.
Ali estavam condensadas suas experiências - violência, erotismo, política, homossexualidade e o compromisso de viver se manifestando.
O livro foi adaptado para o cinema e foi vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza de 2000. Dirigido por Julian Schnabel e estrelado por Javier Bardem (interpretando Arenas) e Hector Babenco no papel de Piñera.
Como filme não é grande coisa e as belas imagens glamourizam situações dolorosas a que o livro é fiel.
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