Do caderno Mais da Folha:
"A mirabolante notícia de que o Exército cercou uma emissora de TV para prender um sargento que se declarou homossexual traz ensinamentos. O Exército é uma sociedade masculina bastante fechada que exalta a força física e os valores viris. Mundo macho de machos, favorece o homoerotismo, senão o homossexualismo.
Platão escreveu que um exército composto por casais de amantes seria indestrutível porque um teria vergonha de mostrar-se covarde diante do outro, preceito que Alexandre, o Grande, ao que parece, estimulou em seus batalhões.
Não estamos mais na Antigüidade, porém, e a sociedade contemporânea desenvolveu um gigantesco preconceito contra o homoerotismo.
Não é difícil perceber o que se esconde por trás da represália contra o sargento. Quando o homofóbico se exprime, não fala do outro, fala de si mesmo. Isso é verdade para qualquer preconceito. O racista, o anti-semita projetam no ser que odeiam o fantasma envergonhado de si próprios, das pulsões que têm dentro de si. Quando as exprimem, é para melhor escondê-las.
Não é certamente um movimento consciente, mas o esquema é mais ou menos assim: "Se estou acusando, denegrindo, humilhando alguém que manifesta características que eu condeno, é porque, vejam bem, sou o oposto dele, sou isento de seus vícios e defeitos". Está claro, essas características, vícios e defeitos existem apenas na cabeça de quem incrimina.
Só assim pode-se compreender uma ação tão pouco inteligente como aquele cerco da emissora".
JORGE COLI
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