junho 09, 2008

EÇA DE QUEIRÓS e a modernidade


Estive lendo na revista Entrelivros a reportagem Eça de Queirós - "Cenas da vida portuguesa" escrita por Hélder Garmes e José Carlos Siqueira.
Nela há referência a um artigo publicado na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro em 6de dezembro de 1894.
Eça de Queirós faz a seguinte projeção sobre a já então crescente migração de trabalhadores chineses pelo mundo:

“Nas fábricas, nas minas, no serviço dos caminhos de ferro, não se verão senão homens de rabicho, silenciosos e destros, fazendo por metade do salário o dobro do serviço – e o operário europeu, eliminado, ou tem de morrer de fome, ou fazer revoluções, ou de forçar os estados a guerras com quatrocentos milhões de chineses. [...] Em cada centro industrial da Europa haverá assim um permanente e atroz conflito de raças”.

Quando comparamos tais observações com as notícias que lemos diariamente nos jornais sobre os conflitos étnicos, não só Europa, mas em todos os cantos do mundo, resultantes, em sua quase maioria, da disputa pelo mercado de trabalho, constatamos que Eça não foi simplesmente um grande retratista da realidade portuguesa do século XIX, mas sobretudo um grande analista das conseqüências da internacionalização das formas de produção, quer no âmbito da luta de classes, quer no âmbito dos conflitos culturais.

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