De muitas maneiras nos dizem que somos ou estamos ficando velhas. Dei-me conta, mais uma vez disto, semanas atrás, quando tomei um metrô, em Madri. Não estava cheio. Fiquei em pé, próximo à porta. Ia desembarcar logo, duas ou tres estações adiante.
Durante estes deslocamentos, de metrô ou de ônibus, nunca leio. Dedico-me a olhar o rosto das pessoas e a imaginar uma estória para elas: de onde estariam vindo? estariam indo ao trabalho, a um encontro amoroso? ou, simplesmente, voltando para casa? haveria alguém a esperá-las? estariam preocupadas com as contas a pagar ou com os afazeres que lhe esperavam? Seriam amadas?
E tome divagações. Se escuto um fiapo de conversa, uma frase que seja, então, a coisa vai longe.
Estava entregue a esse exercício quando, ao passar de um rosto para outro, deparei-me com o olhar de uma jovem que estava sentada próximo a mim e, talvez,fazendo comigo aquilo que eu estava fazendo com os outros. Olhou-me com um rosto calmo, lembrou-me minha filha (teria a idade dela?) e não desviou o olhar quando os seus olhos se encontraram com os meus.
Em seguida, tentou se levantar e me ofereceu o seu lugar.
Ela estava sozinha e trazia consigo uma mala relativamente grande, para quem ia subir/descer as escadas do metrô, mochilas e sacolas, várias sacolas. Parecia mais estar fazendo sua mudança (do alojamento de estudante? do apartamento que compartilhava com uma amiga? ou saindo da casa de seus pais?) do que chegando ou partindo em viagem.
Por que aquele gesto? Sorrindo, com uma incontida ironia, agradeci o lugar que ela me oferecera e ela voltou a se acomodar com aquele excesso de coisas que transportava.
Será que eu a fizera lembrar alguém? sua mãe? ou sua avó?
Se ela não estivesse tão carregada, eu não teria me perturbado. Mas na circunstância, ela não estava em condições de fazer aquele gesto que deveria ser entenddido como de delicadeza. A não ser para uma velhinha!
Naquele momento, parei de ficar inventando estórias para a vida dos outros e ainda estou me perguntando:o que faz da gente uma velha?
Eu estava vestida igual a ela...
2 comentários:
Quando era garoto, aí pelos 15 anos, vias as pessoas de 30 anos como velhas. Aos 30 vemos assim aos de 60. É uma questão de ponto de vista (correto? incorreto?, quem sabe???). Tenho 62 e não sinto ainda a velhice (Também um ponto de vista).
Ótimo! Eu tb não. Como disse na postagem, são os "outros"que me dizem isto....
bjos
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