"A Belle Époque nunca pareceu tanto uma orgia de beleza como na exposição "Impressionisme et la Mode", até 20 de janeiro no Musée d'Orsay, em Paris.
O conceito de reunir moda e pintura impressionista, exibindo leques, chapéus e vestidos sobrepostos a anáguas, pode parecer o máximo da frivolidade. Mas a cidade que inventou a elegância de uma perpétua tarde de verão tem o direito de examinar essa explosão de alegria na moda.
A primeira impressão da exposição, preparada conjuntamente pelo Orsay, pelo museu Metropolitan (Nova York) e pelo Instituto de Arte de Chicago, é de frescor. Tudo parece novo: dos vestidos com seus babados e caudas à fotografia, esta nova ciência de captura dos retratados, expostos como folhas de contato em sépia sobre uma longa parede.
Depois, há um vestido que usa tons de preto no brilho do cetim e nas contas de azeviche. Os espelhos nas pinturas: o retrato de Madame Georges Charpentier com seus filhos sobre um sofá, de Pierre-Auguste Renoir, ou "La Dame", de Edouard Manet.
Os artistas da época usavam as roupas em suas telas para retratar a realidade da codificada sociedade do "fin-de-siècle", quando as minúcias das roupas, a nobreza das joias e o brilho das bochechas definiam a classe de cada um.
As expressões da personalidade e dos trajes em mestres como Manet e James Tissot provam as palavras de Arsène Houssaye, gravadas na parede da exposição: "A mulher parisiense não anda na moda. Ela é a moda".
O charme da exposição deve-se não apenas às adequadas escolhas das obras e trajes expostos.
O figurinista Robert Carsen criou instalações divertidas e interessantes, enchendo as salas com tapetes vermelhos e cadeiras douradas, cada uma com o nome manuscrito de personalidades sociais da época, e montando um desfile de moda a partir de algumas pinturas de Manet.
Igualmente evocativos são os chapéus de inúmeros tamanhos e formas e os leques enfiados atrevidamente num bolso, na cauda de um vestido.
Quando a ostentação parece excessiva, a exposição se endurece com a moda masculina. Com sua rígida alfaiataria acompanhada por reluzentes cartolas, relógios com correntes douradas e alongados guarda-chuvas, os usuários masculinos de uma arquitetura da moda se contrapõem às artes decorativas do sexo oposto.
Aí a exposição passa para a luz do dia -com grama artificial e uma trilha sonora de aves chilreando. As "Demoiselles", de Gustave Courbet, estão estendidas, com rendas, às margens do Sena.
Porém, por mais escapista e mágico que pareça esse período antes da Primeira Guerra Mundial, os curadores da mostra fazem um contraponto de realidade à frivolidade.
A exposição termina com a cinzenta visão da Paris chuvosa por Gustave Caillebotte, minimalista em suas casacas pretas.
E lá está aquele obrigatório acessório masculino: o guarda-chuva preto".
SUZY MENKES
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