agosto 01, 2012

Gore Vidal "o último de uma raça"




Ele se chamava Eugene Luther Vidal. Nasceu em West Point, em 1925, em uma família aristocrática do sul dos EUA. Seus pais se separaram quando ele tinha 10 anos o que o levou a viver com os avós em Washington (seu avô foi senador).
Se você não sabe porque Jackeline entrou sozinha na igreja, e não com seu pai, quando se casou com John Kennedy é porque não leu Gore Vidal.
Ele não só estava no casamento, como conviveu com grandes escritores, além de todo o povo de Hollywood. E conta todas as fofocas e podres da alta sociedade americana da metade do século XX ! 
Quando servia nas Forças Armadas, em plena guerra, aos 21 anos, escreveu seu primeiro romance, Williwaw (1946), sobre o tema.
Dois anos mais tarde, quando ainda dividido entre o engajamento na política ou na literatura, publicou A Cidade do Pilar, uma história gay, quase autobiográfica, e que foi um estrondoso sucesso, por ser um dos primeiros romances americanos que retrataram, sem ambiguidade, a homossexualidade
Continuou a publicar regularmente, mas não abandonou a vocação política. Na década de 1960 era ativo na ala mais liberal do Partido Democrata.
Abertamente homossexual, retornou ao tema da identidade sexual com a sátira Myra Breckenridge (1968) e Myron (1974).
Dotado de uma notável capacidade de contar histórias, GV tem uma vasta produção que inclui 35 romances, ensaios, peças teatrais,    além de roteiros para cinema e televisão.
Em suas obras de ficção prevalece a visão crítica, lúcida e corrosiva da sociedade e da política do seu país, traçando o que ele próprio chamou de surgimento do império americano. 
Alguns de seus romances: Washington D.C (1967), Burr (1973), 1876 (1976), Lincoln (1984), Império (1987), Hollywood (1990), e A Era Dourada (2000).

Palimpsesto é o seu livro de memórias onde revela como, entre um livro e outro, encontrou tempo suficiente para viver uma riquíssima vida, onde figuram amores diversos, inimigos, viagens, política e teatro. Neste surgem detalhes de personalidades com quem ele dividiu a vida e comete algumas indiscrições. Por ex. sobre Tennessee Williams que "detestava ler"; Anais Nin, Truman Capote "egoísta e mentiroso", Allen Ginsberg e Jacqueline Kennedy (que teria perdido a virgindade com um amigo dele, num elevador em Paris), dentre outros  que circularam entre a fama, o dinheiro e o poder.

Provavelmente, de todos os seus romances A Cidade e o Pilar , Lincoln e Criação são os que mais obtiveram sucesso de público.
O primeiro aborda sem subterfúgios o homossexualismo, escandalizando os críticos  em 1948, mas que abriu um novo terreno na literatura americana. 
No segundo o personagem é Lincoln, observado por seus amigos, inimigos e futuros assassinos. Um romance histórico memorável, uma perfeita e íntima simbiose entre ficção e história*
O terceiro, Criação é uma viagem pelos costumes, usos e tradições das civilizações antigas pela mão de Ciro Spitama, neto de Zoroastro, que se encontra na Grécia, em pleno século de Péricles, ditando suas memórias ao sobrinho, Demócrito.
GV residiu muitos anos na Itália (em Ravello). Retornou para os EUA, quando da enfermidade e posterior morte de seu companheiro Howard Austen, em 2003.
Não é sem razão que GV é frequentemente visto como um defensor precoce dos movimentos de libertação sexual, nos ido de 1969 escreveu  : "...para começar, todos somos bissexuais. Trata-se de um fato da nossa natureza. E todos somos sensíveis a estímulos sexuais do nosso próprio sexo bem como do sexo oposto. Certas sociedades, em certas ocasiões, sobretudo pelo interesse em manter o abastecimento de bebês, têm desencorajado a homossexualidade. Outras sociedades, especialmente as militaristas, têm-na exaltado. Mas, independentemente de tabus tribais, a homossexualidade é uma constante da condição humana e não é doença, nem pecado, nem crime ... apesar dos melhores esforços das nossas tribos de puritanos para que o seja. A homossexualidade é tão natural como a heterossexualidade. Reparem que eu utilizo "natural" e não normal" - Revista Esquire
Gore Vidal ficou famoso também por sua intensa vida social, ativismo político e agitada vida sentimental.
No seu obituário no New York Times : 
"Ao fim de sua vida, Vidal era uma figura imponente que acreditava ser o último de uma raça, e possivelmente estava certo"


Nota : * A  Sra Lincoln sofria  de umas Dores de Cabeça tão fortes que foram   descritas assim,  em maiúsculas.  Depois que li o livro , as minhas,  quando muito severas,  passaram a ser classificadas como  "dor de cabeça da Sra. Lincoln". Trocando de marido, perdeu-se esta referência pois ninguém mais do meu convívio conhecia.   Coincidentemente (ou não) deixei de sofrer de dor de cabeça....
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