agosto 09, 2012

GERTRUDES E CLÁUDIO


Numa Escandinávia provinciana, que se esforça para assumir uma ética cristã de difícil convívio com o paganismo germânico ainda arraigado, enquanto a parte mais desenvolvida da Europa já se aproxima do Renascimento, é que se desenvolve a narrativa de Gertrudes e Cláudio.
John Updike conta a história de Gertrudes, mãe de Hamlet, desde sua adolescência, quando é induzida pelo pai a casar com Horvendile, guerreiro sanguinário e arrogante, tornando-o o futuro rei da Jutlândia ( Dinamarca), até o momento em que seu filho interrompe os estudos em Wittemberg e regressa à Dinamarca para os festejos de suas núpcias com Cláudio, irmão do falecido rei.
Na Idade Média o adultério era visto como uma reação do amor ao casamento de conveniência, da natureza contra a ordem social. Assim, não há como não admitir a pureza daquele amor e  não sentir ternura pelo casal maduro. “Já passamos da idade da beleza, dizem os jovens, mas nossos sentidos nos afirmam o contrário.”
Enquanto Cláudio comete assassinato, mas não é um assassino, Gertrudes comete adultério sem ser uma adúltera.
A incursão dela pelo desafio e protesto do adultério fora, tal como os anos que ele passara vagamundeando pelas terras meridionais, um desvio, uma exploração de sua própria natureza que, uma vez realizada, não precisaria ser retomada jamais.” 
Cada uma das três partes em que se divide o romance se inicia com a mesma frase: “O rei estava encolerizado”. Na primeira parte, o rei mencionado é Rorik, pai de Gertrudes, na segunda se trata de Horvendile, o marido de Gertrudes e na terceira é Cláudio, seu segundo marido.
Na versão de Updike, o adultério e o regicídio não são entendidos do ponto de vista de Hamlet - como Shakespeare nos habituou a fazer -, mas pela ótica de Gertrudes e seu cunhado Cláudio. 
O romance termina no momento dramático em que tem início a peça. Embora o conhecimento desta não seja indispensável à compreensão do romance , é interessante na medida em que o romance pretende explicar certas passagens da peça, nos levando a imaginar um novo Hamlet, um novo Shakespeare. 
Nota: Capa J.B.Costa Aguiar s/ Retrato de um homem e uma mulher na janela - Fra Filippo (1406-69)

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