"Embora Bertha Young já tivesse trinta anos, ainda havia momentos como aquele em que ela queria correr, ao invés de caminhar, executar passos de dança subindo e descendo da calçada, rolar um aro, atirar alguma coisa para cima e apanhá-la novamente, ou ficar quieta e rir de nada: rir, simplesmente.
O que pode alguém fazer quando tem trinta anos e, virando a esquina de repente, é tomado por um sentimento de absoluta felicidade — felicidade absoluta! — como se tivesse engolido um brilhante pedaço daquele sol da tardinha e ele estivesse queimando o peito, irradiando um pequeno chuveiro de chispas para dentro de cada partícula do corpo, para cada ponta de dedo?
Não há meio de expressar isso sem parecer "bêbado e desvairado?" Ah! como a civilização é idiota! Para que termos um corpo, se somos obrigados a mantê-lo encerrado em uma caixa, como se fosse um violino raro, muito raro?
"Não, isso de violino não é exatamente o que eu quero dizer" — ela pensou, correndo escadas acima e apalpando a bolsa,... continuação
Katherine Mansfield
Nota: Katherine Mansfield é considerada um dos maiores nomes da literatura inglesa. Nascida em 1888, na Nova Zelândia, de pais ingleses estudou na Inglaterra. Casou e descasou no mesmo dia e depois ficou grávida já em outra ligação amorosa. Em meio a uma conturbada vida afetiva, sexual e social, vê seu irmão morrer, em 1915, durante a guerra. Aos 34 anos de idade, morreu de tuberculose. Sua consagração ocorreu após a morte. A imagem é da casa onde nasceu.
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