abril 10, 2012

Literatura gay para quê?

"Quando morava nos Estados Unidos, percebia que toda livraria tinha uma seção de “gay literature”. Eu não conseguia entender a lógica dessa classificação. Para mim, “gay” era quem sentia atração física por pessoas do mesmo sexo. Como literatura não tem atração sexual por ninguém, ficava difícil imaginar aqueles livros todos na estante transando entre si para poder caracterizá-los como homossexuais.
Há, no entanto, quem defenda a existência de uma chamada “literatura homossexual” como gênero específico. Acho que a base desse entendimento está vinculada à orientação sexual do autor (“se o autor é gay, sua literatura é gay“) e à dos personagens (“literatura com personagens gays é gay também“). Essa ideia de classificar literatura como “gay” provavelmente decorreu do fato de que neste século, mais do que em qualquer outro período da história, autores e personagens passaram a evitar eufemismos ou disfarces para sua homossexualidade.
E a literatura imita a vida. Assim, a maior visibilidade de autores e persoangens abertamente homossexuais na literatura é apenas a projeção de um fenômeno social que tem a ver com vários elementos da contemporaneidade, entre eles a revolução sexual, o enfraquecimento da moral religiosa e o surgimento da AIDS. Em suma: vêem-se mais gays nos livros porque, hoje, os gays são mais visíveis no mundo.
Um branco pode se identificar com uma história escrita por um negro. Um poema composto por um homossexual pode falar ao coração de um heterossexual. E vice-versa. A literatura é um exercício de comunhão. Sua mágica consiste justamente em revelar a humanidade comum que vincula pessoas diferentes. Nesse processo de identificação humana, sinceridade vale muito mais do que gênero, nacionalidade, raça ou orientação sexual".

Alexandre Vidal Porto  no seu blog  Elemento Estrangeiro
Nota: a ilustração não é do blog

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