março 31, 2012

NIETZSCHE n' A Casa de Vidro

A Gaia Ciência 
"Este é talvez o livro mais triunfalista e exultante de Nietzsche, mais cheio de uma saúde anunciada com trombetas e rodopios de dança! É talvez o mais solar, o mais primaveril, o mais “leve” dos livros nietzschianos. “Escrito na língua de um vento de degelo”, A Gaia Ciência representa, segundo o próprio Nietzsche, uma “vitória sobre o inverno”. Não se trata somente do inverno da doença, mas de outros invernos “da alma”: o pessimismo, o romantismo, o niilismo… “Tudo superado!” – eis o grito de júbilo que sai destas páginas!

Nietzsche, em A Gaia Ciência, canta como um pássaro que se ergue de uma queda, sentindo o retorno das forças às asas, celebrando uma felicidade alcançada depois de uma longa provação: “nossa beatitude se assemelha à do náufrago que alcança a costa e que põe seus pés na velha terra firme – espantado de não senti-la vacilar” (#46). Depois de longas peregrinações solitárias, em que o único diálogo era entre o viajante e sua sombra, entre o poeta-pensador e a colmeia tumultuada de seus pensamentos e vivências, Nietzsche enfim sente-se tão transbordante de vida que quer enunciar ao mundo sua felicidade e descrever os contornos de sua “gaia ciência”. É uma obra que “transborda de gratidão, como se a coisa mais inesperada se tivesse realizado: é a gratidão de um convalescente – pois essa coisa mais inesperada foi a cura.”

Ora, quem conhece como foi a vida de Nietzsche sabe que esta criatura amaldiçoada pela impiedade da fortuna viveu adoentada. Atormentado por dores de cabeça pavorosas, parcialmente cego, isolado socialmente e “nômade” por causa da enfermidade (viveu na Suíça, na Itália, ao sabor de suas melhoras e recaídas…), Nietzsche foi um homem que pensou, escreveu, criou… em meio aos turbilhões infindos do sofrer. Após o colapso nervoso em Turim, em 1889, caiu na demência e sua última década de vida foi praticamente a de um “vegetal”: parou de produzir e ficou de cama, aos cuidados da irmã, até a morte em 1900, 11 anos depois de sua última obra. Nós, que já conhecemos o “fim da história” desta vida, talvez achemos um tanto estranho que Nietzsche se gabe de sua saúde e cante as “saturnálias” joviais que enchem estas páginas de A Gaia Ciência, saturadas da “esperança de sarar” e a “embriaguez da cura”… (p. 15)
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