fevereiro 06, 2012

A Separação


Premiado com o Urso de Ouro de melhor filme, no ano passado, em Berlim, ganhador do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro neste ano, este filme iraniano  desponta como um dos favoritos ao Oscar de melhor filme estrangeiro.  Produzido e dirigido por Asghar Farhadi, que é também autor do roteiro que cria  diversas tramas e subtramas a partir de um fato que parece absolutamente simples na cultura ocidental : uma separação.

Da eloquência à mudez : 
"Diante de um juiz de paz do qual só se ouve a voz, o casal argumenta, sentado lado a lado, apresentando suas razões para pleitear o divórcio. Próximos fisicamente, a incompreensão recíproca mantém marido e mulher a uma distância intransponível. É assim o primeiro plano – longo e fixo – de A separação, escrito e dirigido por Asghar Farhadi.
Esse enquadramento frontal da cena de abertura remete a inúmeros planos de casais em crise, desde os de Cenas de um casamento (1973/4), de Ingmar Bergman, ao de Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho, mas A separação difere dessa ilustre linhagem. Para concluir o filme, Asghar Farhadi altera a imagem inicial – no último plano, visto agora de perfil e separado por uma divisória de vidro, o casal emudecido aguarda a decisão crucial da filha. Reduzido ao silêncio, marido e mulher já não tem qualquer poder de influir por ter perdido o direito à palavra.
O que A separação narra, do primeiro ao último plano, é justamente essa passagem da eloquência à mudez. A firmeza temperada de teimosia do casal do início desencadeia conflitos que vão se agravando pelo uso abusivo da palavra. Marido e mulher, além dos demais personagens, mais falam do que agem, sendo sempre persuasivos. Em contraponto, o pai portador de Alzheimer e a filha adolescente são vítimas silenciosas.
À medida que a narrativa avança, as opções feitas baseadas em argumentos sólidos, expostos e defendidos com convicção, levam, invariavelmente, a consequências cada vez mais desastrosas. O que a princípio parece objetivo e racional, mesmo sem ser necessariamente verdadeiro, são, de fato, escolhas pessoais determinadas por interesse próprio, nem sempre feitas com a melhor das intenções. Certezas se transformam em dúvidas e a grande vítima, ao final, é a filha adolescente, constrangida a fazer uma escolha impossível.
Encenado em tom realista, filmado com sobriedade visual, narrado com eficácia e simplicidade, A Separação trata seus personagens com dignidade, sem deixar por isso de expor a fragilidade de caráter que os condena a sofrer.
Eduardo Escorel
(questões cinematográficas na Piauí)

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