novembro 28, 2011

Alquimia dos Aromas

"Alguma vez você já encontrou um perfume que parece ter sido feito para você -um que se misture a sua pele de uma maneira tão perfeita que um estranho em um elevador se volte para perguntar "com licença, esse aroma... o que é?"
Talvez tenha sido o frutado e floral Lolita Lempicka, que Luca Turin e Tania Sanchez, em seu guia às cem melhores fragrâncias, "The Little Book of Perfumes", descrevem como "um decote saudado por trombetas", contra o pano de fundo de "uma seção de madeiras doce, um tanto quanto malandra e curiosamente masculina".
Em outro livro, "Perfume: The Alchemy of Scent", Jean-Claude Ellena -o perfumista exclusivo da Hermès e criador do First, da Van Cleef & Arpels, e da Eau Parfumée au Thé Vert, da Bulgari- explica que, no passado humano distante, "detectar um predador tão rapidamente quanto possível era questão de vida ou morte". Um odor perigoso transmitia uma mensagem útil: corra para salvar sua vida.
Os criadores profissionais de perfume de hoje buscam suscitar uma mensagem diferente: venha para cá!
Ellena percorre o mundo em busca de sensações evocativas. Em 2005, uma caminhada tranquila por uma ilha ajardinada no rio Nilo o levou a criar o perfume da Hermès Un Jardin Sur le Nil
"A ideia me veio em uma alameda de mangueiras", ele recorda. "O perfume delas me seduziu. Uma profusão de imagens aromáticas, de resinas, casca de laranja, cenoura, um odor que era doce e azedo, vívido e suave. Eu cedi, deixei que acariciasse meus sentidos e tomasse posse de mim."
"O virtuosismo é uma forma de sedução", ele murmura.
Hoje em dia, porém, quando se trata de perfume, o virtuosismo é também uma forma de experimentação científica e química avançada.
Sendo um alquimista do odor, Ellena está capacitado a mapear mudanças no laboratório que transformaram a paleta olfativa. Nos últimos anos todo um novo cabedal de aromas -flor de magnólia, bagas de pimenta cor-de-rosa e absolutos de jasmim "sambac" e "Osmanthus"- se abriu para a indústria de perfumes, na medida em que fragrâncias empregadas na China para perfumar chás, bebidas e tabacos chegaram ao atomizador, estimulando não apenas o olfato, mas também as papilas gustativas.
Os dois livros fazem você sentir vontade de correr até o balcão de perfumes e testar suas impressões, comparando-as às rapsódias românticas dos autores.
 A balconista do balcão da Estée Lauder na rede varejista americana Lord & Taylor pode mostrar um livrinho que destaca os ingredientes da cesta de aromas florais do White Linen: rosa búlgara, jasmim, lírio do vale, violeta, raiz de "orris", capim-vetiver, musgo e âmbar. Para o nariz não educado, a combinação de tudo isso pode evocar uma senhorinha idosa de nariz fino e talco nos cabelos. Mas para Sanchez, que conhece o assunto, o White Linen é "uma expressão do ideal americano do 'sex appeal': (a mulher) que acaba de sair do banho, saudável, depilada, esfoliada, descansada e pronta para encarar um novo dia".
Como observa Ellena, qualquer perfume é "uma sucessão de momentos olfativos", e o sucesso do momento depende não apenas do perfume, mas também da pessoa que o usa".
LIESL SCHILLINGER

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