outubro 22, 2011

THE SENSE OF AN ENDING

"Se existe um tema único que percorre a obra de Julian Barnes, desde sua obra-prima de 1985 "O Papagaio de Flaubert" até livros recentes como "Pulse" (2011), é a esquivez da verdade, a subjetividade da memória, a relatividade do conhecimento.
"The Sense of an Ending", romance do autor que ganhou o Booker Prize no último dia 18, se debruça sobre as maneiras com que as pessoas distorcem ou moldam o passado, em um esforço para conferir contornos míticos às suas próprias vidas.
Como alguns dos trabalhos anteriores de Barnes, "The Sense of an Ending" (o título foi tirado de uma obra de teoria literária do crítico Frank Kermode) é denso de ideias filosóficas e mais inteligente que emocionalmente satisfatório. Mesmo assim, consegue criar suspense genuíno como uma espécie de policial psicológico.
Não apenas queremos descobrir como o narrador, Tony Webster, reescreveu sua própria história -e descobrir o que aconteceu cerca de 40 anos atrás-, como compreender por que ele sentiu a necessidade de reescrevê-la.
Hoje com 60 e alguns anos, Tony se persuadiu de que "conquistou um estado pacífico, até calmo", embora nunca tenha tido nenhuma das aventuras com as quais sonhou quando era menino.
O relato feito por Tony de sua adolescência, na primeira metade do livro, ressalta a falta de jeito e a repressão vividas por ele e seus colegas da escola em suas relações com as meninas.
Nesse ponto, as lembranças de Tony parecem bastante diretas. Segundo se recorda, ele admirava um aluno de sua escola, Adrian Finn, que via como sendo um exemplo de sofisticação intelectual.
O brilhante Adrian, leitor de Camus, foi para Cambridge, enquanto Tony estudou numa universidade menos ilustre, onde se envolveu com uma mulher enigmática chamada Veronica Ford; quando o caso de Tony e Veronica chegou a um fim abrupto, Adrian escreveu a Tony, pedindo sua permissão para sair com Veronica.
Então, de repente, aos 22 anos, Adrian cometeu suicídio, deixando uma carta sobre sua decisão.
Quanto a Tony, ele foi trabalhar como administrador de artes, casou-se com uma mulher sensata chamada Margaret, teve uma filha e, depois de 12 anos, separou-se de forma amigável.
Ele diz que admira Adrian por ter tido a coragem de agir segundo suas convicções, enquanto ele, Tony, escolheu a segurança e a ordem. Essa vida maçante, sugere Barnes, é abalada até o cerne quando Tony recebe uma carta misteriosa de uma firma de advocacia informando-o de que uma certa Sarah Ford -a mãe de Veronica- lhe deixou algo em seu testamento: um legado de 500 libras e, estranhamente, o diário de Adrian.
Quando Tony tenta tomar posse do diário, descobre que Veronica reluta em entregá-lo. Tudo isso leva a uma série de conversas crípticas com Veronica que o deixam questionando a veracidade de tudo o que aconteceu.
No final, há algo de levemente condescendente no retrato que o autor pinta de Tony, mostrado um sujeito tão míope e passivo que o leitor tem dificuldade em não se irritar com ele".
MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES - Tradução de CLARA ALLAIN

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