julho 16, 2011

De cinema e de lembranças II

"Cinema é a maior diversão". Este era o slogan de Luiz Severiano Ribeiro que, se não era o único distribuidor, era o proprietário dos Cines São Luiz. Naquele tempo, em que ir ao cinema era um "evento", exigia-se que os frequentadores se trajassem  à altura de um espetáculo da "sétima arte"! Dos homens era exigido usar paletó (havia a possibilidade de alugá-los numa loja próxima), enquanto as mulheres desfilavam nos seus vaporosos vestidos (antes de conhecerem o tubinho e a mini-saia). As amplas e luxuosas salas de espera eram decoradas com lustres que pareciam os de Versalhes!!! 
Todos queriam ver e ser vistos, no meio do frisson que  antecedia o apagar das luzes para o início solene da sessão (sem cheiros de pipoca nem ranger de embalagens). A abertura das pesadas cortinas vermelhas era anunciada pela cessação da música. Durante muitos anos se ouviu o LP  "metais em brasa" cuja melhor faixa era a música do filme "O Homem do Braço de Ouro" que ficava no Lado A. Ou isto era no cinema do interior? Já me confundo...
Aos domingos, antes do "show da vida" segurar as pessoas em frente à TV, a sessão das oito era a mais concorrida. Havia quem aproveitasse a ida ao centro para comprar, na banca de revistas da praça, o jornal "do sul", que só chegava mesmo à noite. Notícias fresquíssimas diante das "Notícias da Semana" que víamos, achando natural, por meses seguidos, junto com o trailer dos filmes que seriam lançados. Um parêntese para contar que havia quem falasse alto "eu venho" e em resposta irritada se ouvia   "traz tua irmã". Que molecagem!!!
Mais do que divertir, alguns filmes eram, sem sombra de dúvida, especiais e a maioria deles marcava a vida das pessoas. Passava os chamados filmes "épicos" (de tão longos, em alguns havia intervalo), "de guerra", faroeste, suspense e dramas que, em geral, eram adaptados de romances de autores consagrados. Roteiros originais ainda eram poucos. Em geral, os enredos permitiam distinguir claramente  o bandido do mocinho, vilania não era atributo disseminado entre as personagens. Na luta do bem versus mal, adivinha quem vencia? E estórias de amor havia sempre o happy end. Das vidas das estrelas e galãs hollywoodianos só nos era dado conhecer o lado glamouroso. Os studios metro (do leão, hoje se sabe que também era gay), condor (ouvia-se um "xô"na platéia para fazê-la voar) passavam uma imagem que, depois se veio a saber, não correspondia à realidade de muitos deles. Por outro lado, não eram censurados os filmes faroestes apesar de suas ferozes matanças de índios. Uma violência que, segundo os códigos morais vigentes, não nos parecia gratuita e por isso não chocava. Minha mãe não gostava de faroeste. Queixava-se de que havia muita poeira o que a fazia passar o filme espirrando. Efeitos especiais só muito depois foram chegando, para felicidade de meu irmão que saía do cinema de mãos molhadas de tanto suor e emoção. Para mim, aquilo era ficção "científica". Até hoje não aprecio. 
Durante a semana, o filme era comentado em quase todas as rodas. Não ir ao cinema era um 'castigo' e uma perda irrecuperável. Quando iria passar novamente? Para assegurar que menores não assistissem "filmes impróprios", um representante do "juizado" se mantinha na entrada do cinema. Ali permanecendo até os vinte primeiros minutos de seu início (marcado pelo apagar das luzes). Uma descoberta providencial para quem aos quinze anos se interessava por todo tipo de  filme, não excluindo os 'censurados'que, de tão ingênuos,  hoje passariam na TV aberta, na sessão da tarde. Se no filme havia uma boa trilha sonora, o que não era raro, então nos deixava maravilhados e nos levava a assistir mais de uma vez. Só Freud explica, ter insistido tanto com meu pai para  assistir comigo O Candelabro Italiano. Foi a única vez que fomos juntos ao cinema.
Estas lembranças me ocorrem a propósito do comentário deste filme e de um email que recebi de um amigo em que diz haver assistido  dezoito filmes nos últimos dias, todos em DVD! Falava de sua nostalgia, inclusive das bolinações que no'escurinho do cinema', longe dos olhares indiscretos e repressivos, aconteciam.
Mas a postagem seria sobre o que dizem de HANAMI - Cerejeiras em Flor que me pareceu ser um filme "das antigas". Daqueles que tocam, além dos olhos, a alma e o coração.
Uma amiga disse no FB ser "pungente"! 
À primeira vista parece estranho que uma produção alemã aborde a cultura japonesa em sua essência. Segundo os "críticos", bastam alguns minutos de Hanami – Cerejeiras em Flor para entender o porque da escolha da terra do sol nascente como pano de fundo para uma trama sensível e rica em simbolismos.
Ainda que trate , sem meias palavras, temas como velhice,  solidão e  morte, a abordagem tem uma certa leveza...Vamos conferir!?

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