junho 23, 2011

N E V E

Sinto-me em dificuldade a cada vez que alguém me pede 'dica de leitura' ou opinião sobre este ou aquele livro. Meus interesses, além de muito pessoais, oscilam ao sabor de circunstâncias completamente alheias ao que diz a crítica ou as listas apontadas nas revistas semanais.
 Cheguei ao fim do ano passado pensando em visitar Istambul. (a extensão ao interior e outras cidades fazia parte do pacote e acabou sendo uma experiência maravilhosa!) . Daí ter lido Istambul - memória e cidade -  link -   antes de viajar. Continuando aceso o meu interesse pela Turquia, sua cultura, história, política, etc , após haver retonado, peguei outro livro do mesmo autor turco, Orhan Pamuk.
 NEVE conta a história de um jornalista turco exilado em Frankfurt, que retorna à Istambul para o enterro de sua mãe e depois segue até uma pequena cidade chamada Kars (neve em turco). O motivo da viagem seria fazer a cobertura das eleições para um jornal de Istambul e apurar uma onda de suicídios que ocorria entre jovens muçulmanas, forçadas a remover seus lenços por força de uma nova regra escolar.
 KA, o jornalista que também era poeta, sofre transformações pessoais, escreve diversos poemas, que “chegam” a ele nas situações mais inusitadas, reencontra uma colega de escola por quem fora apaixonado e sofre com a sua indecisão em aceitar seu convite de voltar com ele para a Alemanha.
 Não imagino que outro autor pudesse nos colocar, tão apropriadamente, diante do conflito entre laicidade vs religiosidade, muçulmanos vs resto do mundo, de maneira a nos fazer entender este tema palpitante da identidade turca.  No entanto, não somos 'agarrados' pela leitura. O ritmo do livro é lento, a NEVE é intensa e monótona . E branca! 
Ler a crítica ( New York Review of Books) não modificou a minha opinião. Mas Orham Pamuk ganhou o Nobel em 2006?  É verdade. Convém não deslembrar que, na época da premiação, a Turquia alimentava a esperança de ser admitida na comunidade européia. A Europa conservadora e bem pensante achava (acredito que ainda acha) que a Turquia é Asia (culturalmente).  Havia necessidade de mostrar a  face culta, informada e cosmopolita da Turquia. Ninguém melhor do que Pamuk para servir de paradigma do muçulmano "civilizado".
Ou  vc não acredita que as decisões dos velhinhos da academia sueca possam ter motivações  não  exclusivamente literárias?
Se recomendar “vivamente” um autor ou livro, se afigura um problema, no caso de NEVE, este fica muito agravado.

2 comentários:

Valéria Santos disse...

Este Blog BOMBA, das postagens à animação. Adoro a CRIATURA e a CRIADORA.

hugo medina disse...

"Neve" tanto quando "Istambul" é chato e inodoro, além de angustiante como a neve que se agarra a pele e aos ossos e as páginas de todo o livro. Parece tolice ler os queridinhos da academia ou será tolice mesmo? Se quiser conferir vá em frente, mas eu nao recomendo, especialmente se a proposta de leitura for o mero esperar das horas ou se não estiver a seu alcance um bom agasalho. Haja neve!