junho 09, 2011

Amsterdã

 
 Amsterdam  pode ser visto como um instigante tratado sobre a amizade e a inexorável confrontação com a morte. A idéia da trama, segundo o próprio autor, surgiu de uma conversa com um psiquiatra amigo sobre as terríveis conseqüências do mal de Alzheimer. Se um deles fosse acometido pela doença, o outro seria amigo o suficiente para livrá-lo do fim humilhante, da demência progressiva? Mas não é um romance sobre eutanásia ou defesa de teses. Quem já leu um dos livros de McEwan (Reparação, Sábado, dentre outros) sabe que sua opção é, preferencialmente, semear dúvidas e colher dilemas. De fato. Amsterdam começa com dois velhos amigos, Clive e Vernon, no funeral de uma amiga de longa data e ex-amante de ambos, em diferentes fases de suas vidas. Comprometem-se a ajudar-se a morrer, caso venham a ser acometidos de doença fatal e mentalmente degenerativa, como aconteceu a Molly. Clive é um compositor que deve finalizar uma sinfonia para comemoração do milênio, enquanto que Vernon é editor de um jornal que enfrenta queda de circulação. São profissionais bem sucedidos que vêem suas carreiras como parte da definição de quem são.
Ao longo do romance, tanto Clive quanto Vernon, são colocados numa condição de tomarem decisões morais que tiveram conseqüências desastrosas em suas carreiras e inevitáveis reflexos na antiga grande amizade. Discussões, brigas, reconciliações fingidas e um final aterrador que não pode deixar de ser brindado com, pelo menos, um leve sorriso, diante de um desfecho do mais sofisticado humor (negro) britânico.

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