fevereiro 06, 2010

O Carapuceiro (link)

Ouso afirmar, com pouquíssimo medo de errar, ser esta a minha melhor "dica de blog". Para quem já começou a pensar no que fazer, desde que desistiu de se meter em engarrafamentos para ir violentar seus ouvidos numa praia qualquer onde, é quase certo, faltará água. Para quem nem pensa em ligar a TV para assistir o que parece serem replays dos desfiles e festas dos anos anteriores (li nas revistas velhas da sala de espera da terapeuta que dez entre dez peladonas e celebridades 'prepararam' o corpo para o carnaval...ou seja, o tempo só 'passou' para nós). Para quem vai aproveitar o feriadão para convalescer de um implante dentário...Para quem vai estar entediado o suficiente para nem querer ir à locadora onde os 'lançamentos' são filmes chatos. Para quem ficar arrependido de não ter aceito aquele convite para 'pular' ladeira abaixo em Olinda ou ir atrás da Daniela Mercury em Salvador, que nem precisava comprar a 'fantasia', mas tinha que ser decidido quando ainda não era possível imaginar o tédio que vinha pela frente...Para estes dias em que se precisa consultar sobre o que 'funciona'...
"Seu problema está resolvido": o BLOG do Xico Sá !
O texto abaixo é uma amostra colhida aleatoriamente. Para quem não conseguir ler o topo do blog : Modos de macho & modinhas de fêmea, amores platônicos & phodas homéricas, jornalismo picareta & gozolendas, fábulas & carapuças


"AUTO-AJUDA PELO MÉTODO TRUFFAUT -PARTE III/FINAL

O amor e também seus arredores – como as paixões ou até mesmo uma galinhada lírica – se move graças a um único combustível: a dificuldade. Eis a gasolina azul dos que amam ou tentam. Dos que se apaixonam ou tentam. Dos que perseguem um pedaço de beleza mundo afora, como o bravo Bertrand de “O Homem que Amava as Mulheres”, filme e livro do xará François Truffaut (1977).
Discorro sobre o tal combustível por ter esbarrado, dia desses, com o site que permite o envio de mensagens, via e-mail, entre pessoas que se paqueram no trânsito – que não é o meu caso, pedestre convicto e inveterado discípulo do velho Johnny Walker. Pois os tais sites podem resolver, na velocidade de uma ejaculação precoce, o drama inicial de Bertrand na citada película. Qual graça há em eliminar os pequenos nós que nos levam aos bons alvos? No amor, de nada adianta "solucionáticas", só "problemáticas", para inverter o aforismo de Dadá Beija-Flor.
Estava o jovem Bertrand na lavanderia de mademoiselle Carmem, sua chegada, quando avista as pernas – só o par de pernas da “esplêndida desconhecida”, como diz o moço – e enlouquece. A bela dona desaparece e ele só tem tempo de anotar a placa do veículo em um maço de Gitanes: 6720 RD 34.
O bicho endoida a cabeçorra. Vai no Detran local e tenta convencer os burocras da necessidades do nome da proprietária do veículo que evadiu-se. Nada feito, a França é uma Pátria séria e preserva a privacidade dos filhos seus. “Se a pessoa tivesse batido no seu carro, ainda vá lá, pois a sua seguradora poderia ter acesso aos dados da pessoa”, ouviu, oba!, mais ou menos assim, de outro burocra gordinho com feições de Balzac dos Pobres.
Os olhos de Bertrand brilharam como nunca. Não teve dúvida: no estacionamento mesmo cuidou de estilhaçar o farol traseiro e o pára-lama do seu Renault ( ou Pegeout, velho Otto?) contra a mureta. Provocada a batida, retoma o labirinto da burocracia para tentar o reencontro com as esplêndidas pernas desconhecidas. Não havia visto sequer o rosto da moça, numa prova, como tem discursado este mal-diagramado que vos fala, que mulher é metonímia, parte pelo todo -basta uma omoplata, um rádio, um perônio, um queixo, uns braços, uns pezinhos... para que nos apaixonemos.
Só sei que vai lá, vem cá, guichês e mais guichês, advogado no meio, um buruçu danado, e o jovem Bertrand finalmente se vê diante da sua perseguida. Uma hora de café e conhaque depois... descobre que não está diante da esplêndida, mas da sua prima, proprietária legal do veículo. O par de pernas, que atendia pelo batismo de Marianne, já deixara a cidade, de volta a Montreal. Não que o nosso herói não tenha apreciado uma metonímia qualquer na prima. Muito pelo contrário. Gostou e mutcho, mas...
É que no trapézio do cocuruto já balançava outra idéia: Bernadette, a recepcionista de uma locadora de carros onde Bertrand esteve na sua busca pela identidade do par de pernas. “Se tiver algum problema, venha me ver”, dissera a moça na ocasião. Lá ia Bertrand, novamente com o coração despedaçado.
Mas sempre movido pelo metanol de alguma dificuldade.
A boa conquista amorosa nunca dependerá do avanço tecnológico, dos miojos sentimentais, da “multidão sem ninguém” (MSN etc), dos serviços profissionais, caso dos sites de encontros ou placas, e sim das travas e lombadas do caminho.
A boa conquista, amigos, nunca será uma corrida de 100 m livres. Será sempre uma corrida com barreiras. Às suas marcas, senhoras e senhores!"

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