janeiro 17, 2010

Enfim visível

O quadro Hymenaeus Travestido Durante Um Sacrifício a Príapo, pintado aproximadamente entre 1634 e 1638 pelo francês Nicolas Poussin (1594-1665), retrata uma celebração em torno de uma estátua de Príapo, o deus grego da fertilidade. Hymenaeus, o deus do casamento, travestido de mulher se mistura com as moças da festa para ficar próximo a sua amada.
A obra, um dos destaques da coleção do Masp, passou por uma restauração e já pode ser vista em suas cores e detalhes novamente realçados. Durante o restauro, foi descoberto por baixo das camadas de tinta um falo ereto como parte da figura de Príapo, deus dos jardins e da fecundidade, tal qual foi pintado originalmente por Poussin.
"O Poussin do Masp permitia, antes, perceber o equilíbrio de uma concepção mental inserindo-se na visualidade. Mas era impossível conhecer o sentimento da cor que possui. Ele se revelou depois da restauração. A superfície pintada brilha agora com uma rutilante autoridade, firme e intensa, aderindo aos volumes. Pontua de laranjas, verdes, vermelhos e azuis, suntuosos, os tempos fortes. A obra se oferece aos olhos com o rigor da arquitetura e da música.
A luz está presente sem enfraquecer os volumes, os planos são respeitados sem que a tonalidade geral se perca, e a harmonia do conjunto brota de notas cromáticas, intensas. A mão é leve, a matéria está presente, mas sem peso. Nem profusão, imprecisão ou virtuosidade, mas ordem e escolha. Nenhuma nervosidade, nenhum deixar por conta, nenhuma improvisação. O que não significa fórmula convencional ou frieza de teórico estéril; tudo é invenção, tudo é engenho e descoberta, mas tudo é clássico, num sentido muito singular, muito individual, nesse século 17 ofuscado pelas aparências da teatralidade.
Seria possível aplicar a Poussin a frase que Focillon escreveu sobre Cézanne: obsessão do eterno na fantasmagoria dos fenômenos.
" Jorge Coli na FSP.

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