Carícias para a alma

Finalmente,neste domingo, ia rever uma antiga amiga. Ela havia marcado de vir à minha casa. Embora minha ' bruxice' me dissesse o contrário, agi como se fosse acontecer: dei um jeito na sala, tirei uma papelada que há dias estava em cima da mesa, comprei uma sobremesa bonita e cheguei a cogitar se ia oferecer café ou o chá que ganhei do Sebas ('Carícias para a alma' : té negro, bergamota, jasmim y grosella). Fiquei matutando: será que ela aceitaria chá?! O que pensaria de 'carícias na alma'? Será que lhe bastariam? Na dúvida, pus um ' frisante' para gelar.
Passei a manhã tentada a ligar para dar-lhe oportunidade de 'confirmar' que não viria. Com a minha mania de ter um plano B, já tinha um destino para a grande travessa de calorias com cobertura de morango que estava à sua espera. Das torradinhas e patês eu mesma daria conta.
Não sei porque, mas acho que era isto mesmo o que nós (não) queríamos. Da última vez, tivemos pouco, quase nada, a nos dizer. Não seríamos mais as mesmas?!! Tenho pensado no quanto a gente vai mudando, devagarzinho, até que um dia se descobre outra...
Ultimamente, venho falando muito do passado, do meu especialmente, e dou por mim falando de uma pessoa que já não sou. Ainda me espanta como, sem que eu percebesse, isto se deu. Não foi de repente, mas o certo é que passei a me enxergar outra pessoa. Nem melhor nem pior. Outra apenas, com outros interesses, outras aspirações (em alguns momentos, nenhuma). Às vezes, até outro paladar e um gosto diferente pela vida.
A minha estante dizia um pouco do que se passava. Havia trocado o riso fácil da ironia pelo humor do filósofo, a melancolia.
Depois de atravessar um mau tempo, com algumas sequelas, sobrevivi. Dei para falar feito uma destrambelhada, para abrir a alma como se o mundo tivesse pronto para ouvir/saber de mim ...(o meu senso crítico me dizendo que é ridícula uma velha entender que pode dizer tudo o que pensa). Mas esta pessoa não é a mesma! O que as pessoas com quem convivo não sabem, pois me conhecem faz pouco tempo. A gente muda por dentro mas, mudar fora, no mundo, é que são elas! Existem os compromissos, os 'acordos' que precisam ser modificados, renovados ou, quem sabe, rompidos. E tem, ainda, o tempo e os interesses dos outros, que nem sempre combinam com os da gente. Se desse para seguir em frente sem explicar, mas também sem magoar ninguém. Difícil! e tem também a preguiça...
Melhor só sonhar!