dezembro 21, 2009

Caligrafia

Li outro dia no NYTimes um artigo do Umberto Eco em que ele comentava sobre o declínio da caligrafia. Com o uso dos computadores e o envio de 'torpedos' pelo celular, a maioria das crianças não sabe escrever à mão . Algumas, quando o fazem, usam letras de forma.
Não faz muito tempo, era mal visto enviar carta pessoal datilografada. Enquanto que correspondência burocrática ou comercial manuscrita soava estranho. Uma carta de amor devia ser escrita à mão....
Mas o manuscrito continua tendo seu lugar de honra no mundo e a caligrafia também. Na Îlle de Saint-Louis (em Paris), há uma rua onde se encontram muitas papelarias à moda antiga, daquelas que vendem caneta-tinteiro, dentre outras raridades. Tenho uma amiga sobre quem as papelarias (modernas ou antigas) exercem um fascínio de grandeza inexplicável. Ela entra e vai, como ela mesma diz, 'se enfiando' por algumas horas. Resta-me tempo para 'investigações paralelas'. Em alguma delas, pude ver, ao fundo, um 'profissional da caligrafia', daqueles que usam caneta de pena e 'desenham' uma caligrafia espetacular.
A eliminação da caligrafia nas escolas, pelo mundo afora, vem acontecendo há mais tempo. Tive dificuldade de encontrar 'cadernos de caligrafia' para minha filha, antes mesmo da chegada do computador e do telefone celular. A escola não mais exigia que os alunos tivessem a `letra boa' . Sempre que viajava procurava os tais cadernos. Cheguei a encontrar alguns bem interessantes. Minha filha se divertia fazendo e hoje tem uma letra bem bonita. Algumas de suas maiúsculas, guardam o registro daquele treino.
A minha geração tinha sido ensinada a ter boa caligrafia. Com o tempo, este exercício foi considerado fútil e tudo piorou com o advento da caneta esferográfica. As pessoas deixaram de ter interesse em escrever bonito. E assim, a escrita foi perdendo a alma, o estilo e a personalidade.
A capacidade de escrever bem (e rapidamente) em um teclado encoraja o pensamento rápido. E, de quebra, dispomos do corretor ortográfico para sublinhar os erros. A escrita à mão nos obrigava a compor a frase mentalmente antes de escrevê-la. O fato de a escrita ser mais lenta permitia que fosse mais elaborada, que se pudesse pensar com calma.
Havia também a crença (!) de que era possível identificar traços de personalidade de alguém com base em seu jeito de escrever. Letra inclinada para a direita seria um sinal de extroversão. Enquanto a forma de ligação das letras representaria a capacidade de se adaptar ao ambiente e a velocidade da grafia estaria relacionada à inteligência.
Não seria mau se os pais, independente da escola, levassem as crianças a fazer caligrafia. Serviria não apenas para o desenvolvimento psicomotor ou a beleza de suas letras, mas para que as 'cartas de amor' voltassem a ser escritas ...
O que já seria um bom motivo!

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