outubro 18, 2009

Z W E I G

O que rende 'audiência' pelos blogs mundo afora é a polêmica. Mas para mim, este espaço serve para arejar minha cabeça, minha alma e deixar sair pensamentos que povoam minha mente que, sem dúvida, não estão nesta direção. Afastada da TV e dos noticiários, me rendo, à vezes, à imprensa internacional. Assim, tomei conhecimento, com atraso, do dossiê que o El Pais dedicou ao Brasil, na semana passada, para, a propósito de sediar a Copa do Mundo e a Olímpiada, aclamar o crescimento econômico, lembrando a obra de Stefan Zweig. Teriam sido necessários 70 anos até que a visão que ele teve acerca do grande potencial brasileiro começasse a se tornar realidade.
Enfim teríamos chegado ao 'futuro'!
Isto foi o bastante para eu 'descer das estrelas' (não confundir com 'subir nas tamancas') e vir 'tirar a limpo' alguns aspectos desta história. Me incomoda (e muito) o fato de a imprensa (poupei os adjetivos) ser acometida deste oba-oba (típico nosso, teria o Zweig tido tempo de perceber?) e faça questão de esquecer ou 'deixar pra lá'(outro traço nosso), a circunstância política que o levou a escrever o livro e cunhar a expressão “país do futuro”.
Em brevíssima biografia: Stefan Zweig era um judeu-austríaco, de família rica e culta de Viena, onde estudou filosofia e literatura. Com a chegada do nazismo, mudou-se (com a primeira mulher) para Londres. Em 1939, divorciou-se e casou com sua secretaria Lotte Altmann, com quem veio para o Brasil, abandonando uma Europa envolvida numa guerra motivada , em parte, por ódios raciais. O casal se instalou em Petrópolis e, em fevereiro de 1942, suicidou-se .
Zweig havia visitado o Brasil em 1936 e o país o fascinara, sobretudo pela salada étnica que viu nas ruas do Rio, o que se refletiu com nitidez no apanhado que fez da história brasileira. Para ele, o brasileiro seria dotado de um caráter em que sobressaiam a tolerância, sobretudo a racial, o espírito de conciliação, a tendência à solução pacífica dos conflitos. Além dessas qualidades do povo, se acrescentava uma natureza rica e generosa. Com tais atributos, o Brasil estaria destinado a apresentar ao mundo, sobre os escombros da Europa, um novo modelo de civilização. O título do livro se transformou em ironia: somos, e seremos sempre, o país do futuro.
O jornalista Alberto Dines que fez o prefácio da edição que li afirma: "Zweig efetivamente fez um negócio com o governo brasileiro: em troca do livro (que desde 1936 pretendia escrever), receberia junto com a mulher um visto de residência permanente [no Brasil]. Uma preciosidade num momento em que o governo trancava as portas aos que fugiam dos horrores do nazismo".

A seguir o trailer do filme de Sylvio Back, de 2002.
Lost Zweig mostra como foi a última semana de vida de Stefan Zweig e de sua mulher Lotte que, num pacto cercado de mistério, se suicidam em Petrópolis, após assistirem o Carnaval de 1942. "Um gesto que ainda hoje, mais de sessenta anos depois, desperta incógnitas e assombro pela sua premeditação e caráter emblemático".

Um filme que deve ser visto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Isto me faz lembrar que o governo brasileiro prometeu terras a serem cultivadas para milhares de italianos, alemães e poloneses que aqui chegaram e "ficaram a ver navios". Quanto sofrimento por promessas não cumprimdas!