outubro 09, 2009

Truffaut

OS INCOMPREENDIDOS (Les Quatre Cents Coups, França, 1959), passa hoje na TV/Futura.
Este filme é daqueles que não envelhece, sua força e beleza continuam intactas. E não é à toa que está em todas as listas de filmes que mudaram a forma de fazer cinema. Foi com ele que François Truffaut, um estreante, ganhou, em Cannes, o prêmio de direção, e lançou a nouvelle vague – o movimento que rompia com a tradição clássica do cinema francês. Até então, nunca se havia visto um filme tão espontâneo e livre de convenções. Feito na primeira pessoa do singular, meio jornalismo e meio poesia, e tão pessoal quanto uma confissão. A fluidez e a intimidade com que o diretor acompanha a história do infeliz Antoine (ele próprio), um garoto mal-amado e descartado pelos professores como um encrenqueiro sem remédio, obrigam a platéia a baixar a guarda e compartilhar com Truffaut uma verdade fundamental: para uma criança, não há tristeza ou alegria que seja pequena. A cena final, em que a câmara "congela" a imagem do rosto angustiado de Antoine, "valeria uma carreira". Truffaut que morreu em 1984, aos 52 anos, de câncer , fez outros grandes filmes, em quase todos eles a figura de sua mãe está lá, sob um disfarce ou outro, na forma de uma mulher que inflige dor.
Para seus colegas de nouvelle vague era tido como um "pequeno-burguês", por causa de seus temas intimistas: infância, amor e traição, obsessão e morte.
"Truffaut é um homem de negócios pela manhã e um poeta à tarde", dizia dele Godard. Que seja verdade. Porém, nunca uma dedicação de meio período à arte rendeu filmes tão belos.
Na experiência narrada no livro Clube do Filme em que o pai, o escritor canadense e crítico de cinema David Gilmour, deixa o filho de 15 anos largar a escola, simplesmente por não gostar de ir às aulas, com a condição de que o acompanhasse em tres sessões de filmes em casa durante a semana, este foi o primeiro filme selecionado.
Recomendo!

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