julho 01, 2009

F a c h a d a s

Quase um mês que voltei de Barcelona...”cidade feiticeira que nos rouba a alma sem nos darmos conta”. Depois disto já me aconteceram tantas coisas...
Voltei a impregnar-me dela e de seus segredos, através dos olhos do Zafón e dos cenários dos seus romances mostrados no 'Guia' de Sergi Doria (adquiri no Porto e enviei pelo correio para cá). Um percurso fascinante entre a cidade real e a romanesca, neste livro que o autor explica como não sendo um tratado de literatura nem um guia turístico e tampouco um ensaio histórico. O Guia da Barcelona de Carlos Ruiz Zafón é um passeio guiado pelo olhar do escritor através de seus romances: Marina, A Sombra do Vento e o Jogo do Anjo. Já mencionei a Barcelona de Zafón em postagens anteriores - Els Quatre Gats - foi uma delas.
Estas imagens de Barcelona são outras. Na verdade são fachadas que fotografei a partir do onibus, de longe e, quase sempre, em movimento. Não guardam qualquer relação com as imagens do livro que traz oito emocionantes roteiros que vão do obscuro Cemitérios dos Livros Esquecidos (a quem interessar, Calle Arco del Teatro) às estreitas escadas do Raval e à praça do Bairro Gótico; pelos palácios e mercearias à sombra de Santa Maria del Mar aos jardins da Ciudadela. Livros malditos, memórias de defuntos e maravilhas modernistas. Ruas, edifícios e avenidas na Barcelona dos mistérios.
O Cemitérios dos Livros Esquecidos ("onde vão parar apenas aqueles volumes que alguém de verdade quer guardar"), ao mesmo tempo que é um mito literário de Barcelona é uma imagem de amor à leitura: “ Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Neste lugar os livros que já ninguém recorda, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar às mãos de um noovo leitor , um novo espírito...”
Se é verdade que somos aquilo que comemos, podemos dizer o mesmo em relação à literatura? Somos o que lemos? Conforme nossas afinidades, ao ler um bom romance, nosso mundo passa a ser representado nas vozes dos personagens? Há, por outro lado, os que asseguram que a literatura "cura tudo". “No romance cabe tudo...a única coisa exigível é que a história nos agarre e esqueçamos assim os ponteiros desse relógio que marca, implacável, o tedium vitae”. Me deixo “ agarrar” de vez em quando e recomendo vivamente aos amigos que o façam. Será só prazer. Sem qualquer efeito colateral desagradável.

Nenhum comentário: