“.... chegar e partir
são só dois lados da mesma viagem.
O trem que chega
é o mesmo trem da partida
A hora do encontro
é também despedida
A plataforma dessa estação
é a vida desse meu lugar
é a vida...”
(Encontros e despedidas, Milton Nascimento Fernando Brant)
Não vou dizer que vou ali e já volto, nem que cheguei para ficar. Não sou de despedidas nem de regressos. Chego de vez em quando, para partir quase em seguida. Desta vez, vou para uma temporada que promete ser mais longa....Só isto. Mas esta, digamos, volta (depois de quase vinte anos) é a confirmação de que amizade não dá a mínima para a geografia, de que 'próximo' não significa junto, de que ter um oceano separando não quer dizer estar 'distante'. Tudo é uma questão de afinidade, cumplicidade, compreensão e por que não? de bem-querer. Esta saudável reciprocidade de bons afetos que não exige presença constante nem a sufocante exclusividade do amor ! Sem obrigação ou compromisso, o prazer do (re) encontro e da boa conversa. Meus amigos (as) estão espalhados por todo lado... Infringi a regra de que depois de uma certa idade não se faz novos. Gente muito especial entrou para a minha vida, ultimamente, como se nela nunca tivesse deixado de estar. Desde que desisti do amor (ou ele desistiu de mim), é com amigos(as) que reparto meus afetos, me renovo e me enriqueço, ao mesmo tempo em que tenho me divertido à beça!
Mas houve um momento em que perdi essa perspectiva, quando estive deprimida. Mas saí dessa para descobrir (!) que a vida é rica demais para lhe voltarmos as costas. Ao retomá-la, passei um filtro e eliminei o que (e quem), por qualquer razão, não valia a pena continuar 'carregando'. A vida ficou mais leve, embora, às vezes (poucas), lembre com saudade de certas passagens...
De uns tempos para cá, fiquei ainda mais livre (com tempo) e dei para 'retornar' e a permancer mais demoradamente. O que se entende por 'minha casa' passou a ser, para mim, o lugar onde me encontro. E assim, deixei de ter regressos ou partidas. Entre tantos 'até breve', nenhum destes lugares é para mim mais importante ou melhor. Percebo, no entanto, ser impossível : regressar. Permanecer, criar raiz, ficar plantada passa a ter o mesmo sentido de tédio, monotonia, mesmice, rotina e semgracice...
Como se não bastasse a dolorosa certeza de que a viagem da vida, para a qual compramos bilhete só de ida, e em que todos os dias são dias de partida para lugar nenhum, terminará. Que esta, pelo menos, seja sem despedidas!
2 comentários:
Quem muito conhece idas e vindas, algumas bem definitivas divisoras de águas [salgadas], entende muito bem o teu texto.
Até hoje tenho amigos no além-mar que, quando os revejo depois de alguns anos, parece que foi ontem que os vi...Serás mais do que bem-vinda! TL
Isto é maturidade com liberdade. Sem correntes; com elos solidos que sao os amigos. O tempo nao existe; apenas passa na tela da vida.
Bravo amiga!
até rimou! ( q cafona eu!)
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