janeiro 02, 2009

A Elegância do Ouriço

Morar onde os outros passam as férias me dá oportunidade de receber amigos e com eles passear, ir a diferentes praias, descobrir novos lugares...Tudo que não faria se não fosse movida pela curiosidade e interesse deles. Para quem já vive de férias, o farniente dos outros tem um sabor diferente. Além da quebra da rotina, troca-se informações sobre o que se tem visto, feito, lido, planeja-se outras viagens. Há as sessões remembers e também aquelas que chamamos entre nós de botar os fuxicos em dia . Uma delícia! São momentos em que deixo para lá o que faço para preencher os outros dias do ano em que não estou com eles. Tudo pode esperar. Deixei "esperando" este livro e agora, tive um tempinho, vim dar uma olhada nele.
A Elegância do Ouriço (de Muriel Barbery) é uma história que se passa num elegante bairro de Paris, narrada por duas pessoas. Uma adolescente esperta, que percebe mais do mundo à sua volta do que deixa transparecer, principalmente em relação à sua família, aos seus amigos e à sociedade em geral. A outra é a zeladora do edifício, leitora inveterada, bastante mordaz, que tem sempre uma resposta pronta para qualquer ocasião, que também percebe a sua volta muito mais do que os moradores do edifício lhe dão crédito. 
É através dos olhos delas que somos apresentados a uma gama de moradores do prédio, parisienses com suas maneiras de viver, congeladas por séculos de civilização.  
A história se passa quase inteiramente no 7, rue de Grenelle, onde ambas residem e passam a vida preocupadas em  apagar os traços de suas existências e têm bastante sucesso em se tornarem quase invisíveis aos outros, apesar de terem vidas interiores muito ricas e de quase não perderem nada do que acontece ao seu redor, principalmente quanto às intenções das pessoas que conhecem e seus preconceitos.
O texto é jocoso e cheio de observações bem humororadas sobre a vida moderna; divertidas descrições do que é esperado no comportamento de cada um e irônicas coincidências que geram preciosas observações sobre literatura, envelhecimento, psicanálise e muitos outros aspectos do dia a dia .
O comentário abaixo está sem autoria. Quando o registrei pretendia apenas não esquecer de colocar o livro nas dicas para o amigo secreto:
“Muitas vezes, durante a leitura deste livro, eu me encontrei pensando nos quadros do pintor belga René Magritte. As observações de Paloma e Renée são tão bem colocadas que se parecem com a superimposição de imagens característica dos trabalhos de maior humor e ironia do pintor. É só nos lembrarmos de um de seus quadros [ele fez muitas versões do mesmo] mais conhecidos: Ceci n’est pás une pipe, [Isto não é um cachimbo] para entendermos como trabalha o humor presente neste livro de Muriel Barbery. Magritte, assim com Renée e Paloma, está sempre brincando com o significado das palavras ou com o significado das imagens, colocando-as juntas e nos obrigando, frequentemente, a pensar visualmente por causa de suas justaposições.
E me pergunto de a autora não teria homenageado o pintor já que uma das personagens principais se chama Renée, a forma feminina do primeiro nome de Magritte. Tão jocoso quanto os nomes que a autora escolheu para as duas irmãs, moradoras do prédio, Paloma e Colombe, que têm como seus primeiros nomes duas palavras com o mesmo significado: pomba, em línguas diferentes. Esta possibilidade ainda se torna mais crível quando nos lembramos de que a autora é professora de filosofia e certamente estaria familiarizada com os trocadilhos visuais que Magritte se empenhou em aprimorar. No final do século XX, os quadros deste pintor ilustraram muito conceitos de filosofia e lingüística. Tenho certeza que na próxima vez que vier a ler este livro ainda serei capaz de encontrar mais “coincidências” interessantes que me escaparam na primeira leitura.Leio muito. E faz algum tempo que não encontro um livro que me deixasse tão encantada, tão absorvida. Recomendo com muitas estrelas. É definitivamente um livro para quem gosta de livros e de idéias. “

Um comentário:

Anônimo disse...

Menina, onde é mesmo que tu moras?

Sou louco por uma "garapa"