janeiro 16, 2009

Certos gestos

Anos atrás, conheci na academia - em Curitiba, (um dia ainda conto uma estória boa de lá) uma mulher, mais nova do que eu, que me falou que era viuva. Contou-me que não saía de casa , não ia ao cinema, nem às festas na família, por uma razão que para ela era básica: não tinha um marido com quem entrar de braços dados.
Imaginei que a perda era recente e que ela ainda não tinha se acostumado com a nova situação e que, com o tempo, iria voltar a viver normalmente. No decorrer da conversa (estávamos em esteiras vizinhas) fiquei sabendo que fazia nove anos que o marido tinha morrido. Eu que vinha tentando consolá-la , fiquei sem palavras! Estava diante daquele tipo de mulher que não existe senão à sombra de um homem. Não preciso dizer que passei a evitá-la.
No entanto, mesmo não querendo ninguém para chamar de meu, morro de inveja dos casais que andam de mãos dadas. Esta é a primeira coisa que presto atenção num casal. Sou capaz de dizer em relação a todos os que conheço, como se comportam quando se trata de darem-se as mãos.
Talvez eu atribua a este gesto um siginificado exagerado , sobretudo entre aqueles casais que não são meros namorados.Não acredito que o casamento, ou a duração da relação, deva ser critério ( ou a justificativa), já que observo casais bem velhinhos caminhando na calçada, de mãos entrelaçadas, como tem que ser.
Mãos dadas devia ser uma regra universal. Com as exceções de sempre, já que em certas culturas as mulheres são obrigadas a andar atrás de seus “senhores”. Mas ninguém que tenha juízo vai querer um desses.
Não funciona mais assim, mas o toque das mãos era o começo do amor. Vinha antes do beijo e só perdia para o encontro dos olhares. Este ainda deixava margem a dúvida. Já as mãos, não. Se eram acariciadas e retribuído o toque, o enlace estava caracterizado. Depois disto, a mão podia até passear um pouco. O encontro de mãos se dava também de supetão, por iniciativa masculina cheia de determinação, quando a promessa de namoro era logo compreendida.
Mas por que um dia as mãos não mais se juntam, permanecem penduradas, lado a lado? Terá sido a pressa dele, uma distração que ela não perdoou, mas também não cobrou, porque tantas mágoas já estavam acumuladas? Ou teria sido ela própria quem recusou o aconchego mecânico, entediada ou irritada que estava? Nunca se sabe...
Não vejo com bons olhos as relações em que as mãos foram largadas, não se unem mais. Podem até durar (e duram), manter algum tipo de cumplicidade, mas uma distância sempre estará separando aquelas duas pessoas. Uma distância de apenas alguns centímetros que revela um tipo de não-entrega.
Por sua vez, nada me comove mais do que as mãos dadas de um casal homossexual. Neste gesto simples e banal, entre eles, além da manifestação de afeto, é um desafio e a expressão de uma luta que ainda está por ser vencida

2 comentários:

Anônimo disse...

Hoje não resisti e fiquei foi tempo agarrado numas mãos ... como lembrei de ti! Bjs. TL

Anônimo disse...

Sem tempo e sem pc em casa ultimamente, nao pude ler o blog.
Cada vez melhor, recomendo sempre aos bons amigos capacitados a ler nossa bela lingua.
Essa ternura poderosa das mãos é real e um termometro q mostra muito. Alias, um problema na nossa era é q as pessoas quase não se tocam, não conversam, não o u v e m.....
Bia