
Por outro lado, não acredito que a maioria das pessoas que escreve num blog quer ser vista. E que freqüenta vários blogs pretendendo também ser visitada. Igualmente não concordo que não haveria melhor maneira de conhecer alguém senão visitando o seu blog. Mas estou de acordo quanto ao blog refletir uma fase da vida da gente...
Estas idéias/opiniões foram colhidas, quando volto a pensar ("Ter um blog" é de 21.07) sobre o blog que neste mês completa um ano.
Nasceu em São Paulo, de parto normal, numa madrugada, na casa da minha amiga Cris. Conversando com ela, que é uma mulher super-atarefada, sem tempo, perfil nem vocação para interneteira e me surpreendeu dizendo: criei um blog!
Eu que vinha lendo os blogs de jornalistas, até então, pensava ser para profissional fazer/ter um blog, só eles teriam o que e para quem dizer alguma coisa.
Mas novidadeira como sou, quis saber imediatamente todos os detalhes de como criar um blog. Fomos para a frente do computador onde ela, à medida que me mostrava como fazer, ia me pedindo os dados para criação do que veio a ser este.
Imaginem a sensação de quem nunca pensou em ter filho e um dia encontra uma criança, num cestinho com um bilhete em sua porta (isto acontecia, com uma certa frequência, antigamente, hoje deve ser crime!). Foi um impacto. E agora? O que fazer? Que nome dar? Como manter? De que se alimenta? O que veste? Que pessoa será esta? Estava diante desta situação.
Pessoalmente, estava vivendo uma fase em que, a quase tudo que me referia que dissesse respeito a tempo, aparecia "...uma certa idade": depois de uma certa idade, a partir de uma certa idade, tendo uma certa idade.....
Um amigo havia me chamado a atenção para este cacoete chato. Como todos. Já estava consciente dele e tentando me livrar inclusive da crise que o fez tão presente.
Estava descambando para a inevitável e irreversível envelhescença, em que períodos de relativa estabilidade são entremeados por “quedas” abruptas (leia-se declínios vários e decrepitude galopante) que não haviam ocorrido (ou eu não havia percebido) ao longo da última década e pareciam haver se manifestado de uma só vez, quando parei de trabalhar e de menstruar. Pode haver algo mais rico de simbolismo do que estes dois fatos? Penso que não...
Passei a me sentir uma mulher de uma certa idade. E posso dizer que foi difícil. A coisa esteve tão feia que, às novas pessoas que fui conhecendo, explicava que nem sempre eu tinha sido assim.
- Assim como?
- Velha!
Com gorduras localizadas, cabelos já tingidos, caindo, juntamente com as bochechas, tendo depressão, reduzidas horas de sono e, pior do que tudo, desocupada e sem projetos.
Isto explica por que ao ser perguntada pela minha amiga que nome dar ao blog respondi, sem precisar pensar: uma certa idade...
Numa certa idade em que se apaixonar pode ser ridículo, em que não se deve expressar certos desejos, não se pode jantar muito tarde, não se consegue contar algo sem esquecer parte (às vezes a melhor) de uma história. Um certa idade em que os amigos começam a morrer e os que não morrem se tornam velhos e feios, em que os jovens acham que devem nos ceder o assento no onibus/metrô e nos tratar por senhora, em que a bilheteira do cinema nos entrega um bilhete sênior!
Precisa mais?
E, além de tudo, com medo (não só do "alemão"), mas medo de passar a ter uma vida em que os verbos são conjugados no pretérito: perfeito, imperfeito ou mais-que-perfeito(nem sei mais depois de tantas reformas e de tentar aprender noutras línguas), em que encontros interessantes, descobertas curiosas, acontecimentos realmente significativos podem não mais ocorrer...
Uma certa idade em que se deve administrar: LDL, HDL, PCR, TRH... PQP!
A rigor, não vivo nas estrelas onde brilha a minha alma, mas passei a ter a ilusão(!) de que tenho com quem compartilhar o que leio, vejo, ouço, assisto, penso e, às vezes, lembro...
2 comentários:
E eu, a caminho de ter também uma certa idade (38, atualmente), descobri este seu cantinho há pouco e tenho vindo sempre, beber as reflexões/inspirações de uma pessoa que não conheço, mas que, tenho certeza, ficou ainda mais interessante com o tempo. Não troco o seu blog por dois de 25, de jeito nenhum! Beijo.
parabéns ! adorei o texto ... o sebastião me apresentou ao seu blog. parabéns ,mais uma vez! sebastião manda um abraço...
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