Recentemente, me referi ao fato de na literatura brasileira contemporânea predominar, sobre qualquer outro gênero literário, a crônica. Pois bem, acaba de ser lançado Doidas e santas um desses livros em que foram reunidas 100 crônicas da Martha Medeiros. A autora que, antes de ser escritora foi publicitária, conta com uma legião cada vez maior de leitores (as). Seus textos abordam temas da vida contemporânea que vão desde o amor, maternidade, sexo, família, casamento às neuroses da vida urbana. Como acontece com os de outros cronistas, seus textos vêm sendo reproduzidos pela internet o que a incomoda. Ela se queixa de os textos ganharem enxertos, cortes, novas autorias, serem acompanhados de músicas de gosto duvidoso e de ilustrações que nada acrescentam.
O nome do livro (DOIDAS E SANTAS) é o mesmo de uma das crônicas (v. crônicas, em 30.06) cujo título é inspirado num verso da Adélia Prado (v. em “poesia” A Serenata, em 30.06). A crônica fala das escolhas de uma mulher madura: ou segue tentando satisfazer seus desejos ou interrompe as buscas. Mulher de uma certa idade ainda exposta às paixões seria uma doida (!), enquanto que as santas serenizam(?).
Dizer que “Toda mulher é doida. Eu só conheço mulher louca” seria, segundo ela, um elogio a todas nós. “ É a loucura do eterno questionamento, de não se contentar com o que parece definitivo, de possuir inúmeras vontades, mesmo contraditórias: casar e não casar, ter filhos e não ter filhos… É a loucura sadia de querer se conhecer profundamente, já que não muito tempo atrás nosso papel era muito definido e inquestionável. Antes éramos mulheres privadas, agora somos públicas. Ainda estamos em estado de excitação: falamos demais, gesticulamos demais, queremos demais, amamos demais. Somos ainda bastante superlativas.”
Numa entrevista recente, MM a propósito de casamento disse acreditar que “ todo mundo segue almejando uma relação estável, uma relação de amor. Falta aceitar que o “pra sempre” não existe mais, porque temos mais oportunidades e mais longevidade, e isso dinamiza a vida. Se aceitarmos que não é nenhum fiasco vivenciar, ao longo da vida, duas ou três relações estáveis – sem contar as provisórias, contingentes, como dizia Simone de Beauvoir – ninguém mais falará em fracasso ou crise. Se observarmos bem, já estamos vivendo essa realidade. Falta aceitá-la como padrão de normalidade.”
Quanto à felicidade amorosa ter virado quase uma obrigação, especialmente para as mulheres, MM entende que essa busca sempre foi um objetivo do ser humano, ainda que “Algumas pessoas realmente se desesperam e se jogam em qualquer oportunidade de contato, mas quem somos nós para julgar? E se esse preço não for caro pra elas? Outras aceitam a idéia de viverem sozinhas, até que surja alguém em quem valha a pena investir. Acho que a patrulha era até pior antes: se você não fosse casado, era uma solteirona recalcada (nós) ou playboys indignos de confiança (vocês). Uma enorme pressão. Hoje as pessoas já não cobram tanto se você é solteiro ou casado, ainda que a sociedade sempre receba com mais alegria os “pares” do que os “ímpares”.”
Para ela, “ a insatisfação feminina está mais relacionada à quantidade
de responsabilidades que a mulher tem assumido. Parece que é preciso ser super-mulher para provar que a revolução feminista vingou. Vejo certas capas de revistas, e parecemos todas biônicas, infladas, poderosas. Creio que é o momento de buscar um equilíbrio nas tarefas e não se importar muito com o que a sociedade espera de nós.”
Das crônicas agora reunidas já li tantas em publicações esparsas que, no momento, não penso em (re) lê-las, mas que são deliciosas, é inegável!
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