outubro 22, 2008

Era feliz e sabia

Um pouco por falta de assunto, ou por querer agradá-lo, enviei para um amigo, via e-mail, um autêntico samba (Seu Jorge e Elza Soares, juntos). Um samba daqueles que, como disse na mensagem, ia fazê-lo levantar para dançar....
“ Ah! ,que saudade de um bom samba.... Saudade de ir num bar que tem musica ao vivo e toca samba, samba canção e bossa nova.... Saudade de ouvir gente tocando violão, numa roda, na praia à noite.... Por que as coisas mudam tanto quando o tempo vai passando... ? Onde está escrito que tem que mudar ? Eu não dancei no meio da cozinha, mas sambei com a minha mente, num barzinho imaginário de roda de samba em algum lugar desse meu Brasil (o do sonho, não o da violência....). Que coisa boa....”
Ao ler isto me acordei para a mais triste realidade: barzinho, roda de violão, à noite, na praia é uma das muitas coisas boas que não se faz há, pelo menos, duas gerações. O que se passou a ouvir (e cantar), não aceita violão como acompanhamento. Ir à noite para a praia, na lua cheia (fazer “luarada”), acampar, fazer fogueira, dormir em barraca, ou não dormir, assistir “corrida de submarino”, tudo isto se tornou impensável.
Este “barzinho” sobrevive apenas na saudade de quem viveu e aproveitou aquele tempo, a que o meu amigo se refere, apropriadamente, como “o do sonho”.
Achei interessante este “imaginário”, seu significado e simbologia.
No entanto, há quem acredite possível recriá-lo. Como se cenário e figurino bastassem para reproduzir a atmosfera de uma época, retomar antigas amizades e até reatar relacionamentos amorosos!
Esta crença tem levado a que se promovam eventos/festas "temáticas", embaladas com as músicas e trajes dos anos 60,70,80, regadas à uma nostalgia capenga, na falsa ilusão de que, vestidos à maneira de quando eram jovens, ouvindo as músicas, cantando e dançando à moda da época em que tinham 20, 30 anos, (a que se referem como os bons e velhos tempos), irão voltar a sonhar.
Para mim estas pessoas passam a impressão de estarem meio desesperadas. Parecem não ter curtido (para usar o termo contemporâneo), na época própria e agora, caricaturadas de jovens, tentam artificialmente, incorporar os modernismos que rejeitaram ou nem conheceram, em nome de uma felicidade cuja busca os faz perder o senso do ridículo. Ou sou eu que não me permito entrar na fantasia?
Prefiro o "barzinho" do imaginário, ainda que seja mero símbolo de alegria e descontração recuperáveis apenas nas nossas lembranças...
E estas são muito boas na medida em que posso pensar “eu era feliz e sabia!”

2 comentários:

Anônimo disse...

Zélia, lembrei logo do Raimundinho, aquele fundo de quintal da Praia de Iracema, perto do Estoril, onde se faziam ótimas serestas embaixo de mangueiras, e onde cada um podia levar seu violão, mas o importante era mesmo cantarmos juntos. Também tenho certeza de que era feliz.

Anônimo disse...

Obrigado pelo samba e pelas emocoes que brotaram dele...!!!!!!!