setembro 13, 2008

P.S.: Beijo tua boquinha gulosa

"Olhe bem para a boca da bela mulher do retrato. Para esses lábios, um dos maiores nomes da literatura brasileira escreveu: “Antes e depois, beijar, longamente, a tua boquinha. Essa tua boca sensual e perversamente bonita, expressiva, quente, sabida, sabidíssima, suavíssima, ousada, ávida, requintada, ‘rafinierte’, gulosa, pecadora, especialista, perfumada, gostosa, tão gostosa como você toda inteira, meu anjo de Aracy bonita, muito minha, dona do meu coração”.
Sim, ele mesmo. João Guimarães Rosa, o autor de Grande Sertão: Veredas, entre outras obras-primas da língua portuguesa, o diplomata sempre refinado do Itamaraty, escreveu essas linhas condimentadas e centenas de outras para a grande companheira de sua vida, num estilo que em nada lembra a prosa de Riobaldo e Diadorim. Quando “Joãozinho” escrevia para “Ara” (era assim que eles chamavam um ao outro ), era direto, rasgado, explícito. Só pensava em “boquinha sabida”, “pintazinha do pé esquerdo”, “camisolinha cor-de-rosa”.
O acervo – grande parte dele inédito – é composto por 107 cartas, 44 postais, bilhetes e telegramas, escritos por Rosa para Aracy entre 24 de agosto de 1938 e 18 de agosto de 1960. A pesquisa da correspondência foi confiada a duas estudiosas da obra do escritor, Neuma Cavalcante, da Universidade Federal do Ceará, e Elza Miné, da Universidade de São Paulo. Elas se dedicam agora a escrever a biografia de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, uma personagem extraordinária por motivos que vão muito além da condição de mulher de grande homem.
O livro será lançado ainda no ano do centenário de Aracy, que se encerra em 20 de abril. “Quando comecei a ler as cartas, fiquei muito tímida, como sempre acontece quando lemos a correspondência de alguém”, diz Neuma. “Fiquei muito emocionada com a vida deles. Aos poucos, senti como se fossem da família.”
A pesquisa foi iniciada no fim da década de 90. Em 2006, Neuma e Elza publicaram um artigo analisando a correspondência amorosa, nos Anais do Seminário Internacional em comemoração aos 50 anos de Grande Sertão: Veredas. Na biografia que preparam, as cartas serão reveladas e ganharão sentido no contexto da vida e da época de Aracy.

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E prossegue:
Grande Amor: Veredas
Trechos de cartas escritas por Guimarães Rosa para Aracy entre 1938 e 1960:
”Mas meu amorzinho, para mim você não é só corpo, se bem que você é e será sempre a minha Vênus, a minha cocaína, o diabinho carnal que se apoderou da minha pele e penetrou em mim até a medula dos ossos.”
”Quando é que irás compreender que eu sou mais teu do que é tua aquela pintazinha que tens no pé esquerdo, ou do que aquela verrugazinha que tens no flanco?”
”Será que você está nesta hora também pensando em mim? Agora vou para a cama, para dormir com a camisolinha cor-de-rosa, depois de conversar um pouco com os chinelinhos chineses, que me falarão dos lindos pezinhos de sua dona.” (25/8/1938)

A continuação desta interessantíssima matéria da jornalista Eliane Brum pode ser lida na seção Mente Aberta da revista Época acessando no título da postagem.

2 comentários:

Anônimo disse...

O seu blog está lindo! Vou tentar criar o hábito de lê-lo todo Domingo ( aliás, hoje só li o Rosa....porque quero ver a Ara...).beijo, depois falo mais.
Wania

Anônimo disse...

FOFINHO este nosso Guimaraes Rosa! Que maneira mais linda de falar com seu amor!
acho o maximo qdo 2 pessoas conseguem conviver no tempo com carinho !
Bia