setembro 16, 2008
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
Assista ao trailer (legendado).
Acabo de sair do ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA , o filme do Fernando Meirelles. Já era possível imaginar a dificuldade que seria adaptar para o cienema um livro do Saramago. Quem já leu algum sabe o quanto é prolixo, tem um estilo deliberadamente reiterativo, lança mil idéias e sentimentos em frases enormes, resultando em estruturas narrativas complexas, pautadas pelo fluxo da consciência, que exigem do leitor uma disposição incomum.Como se isto não bastasse, usa uma pontuação esdrúxula, milhões de vírgulas seguidas de períodos iniciados por letras maiúsculas. Dizendo isto, quem não leu pode até se desinteressar...No entanto,o filme é imperdível!
Convém deixar claro que não se trata de um filme de entretenimento, agradável de ser visto.....É um filme que nos remete a uma séria reflexão sobre a condição humana. A cegueira, no caso, é uma metáfora que cai ainda melhor hoje do que na época em que o livro foi lançado. Estaríamos cada vez mais “cegos”? Ou será que somos os mesmos cegos de sempre?
O filme, assim como o livro, discute isso de maneira inteligente e original. Há momentos em que a tela se cobre de branco (a cegueira do livro é branca) e é esta imagem que nos leva ao núcleo do sofrimento dos personagens.
Outro detalhe é que a grande personagem do filme, (Julianne Moore deverá ser indicada ao Oscar pelo papel), como as demais, não têm nome. Ela é simplesmente a mulher do médico que lidera (metaforicamente) a humanidade e numa abordagem isenta de qualquer maniqueisno prova que nós fazemos o que temos de fazer quando se trata da sobrevivência, deixando a moral em segundo plano.
SARAMAGO já escreveu: "Como será possível acreditar num Deus criador do Universo, se o mesmo Deus criou a espécie humana? Por outras palavras, a existência do homem, precisamente, é o que prova a inexistência de Deus”. Para o escritor, a humanidade – leia-se a civilização ocidental capitalista – vive tempos sombrios, perdida num caos labiríntico, marcado pela miséria e pela injustiça, pela crueldade e pelo egoísmo, pelo medo e pela culpa. Segundo ele, seu objetivo é chamar a atenção do leitor para a “responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”. Mas em que consistiria essa responsabilidade? Não somente em registrar e ter consciência do horror que nos cerca, mas, sobretudo, em ser capaz de conservar a lucidez, resgatar a solidariedade. Ser capaz de amar mesmo sob as mais terríveis pressões - tarefas que ele compartilha com os leitores. O paralelo evidente é com o romance A peste, de Albert Camus, já que nos dois livros uma epidemia misteriosa provoca o desmoronamento completo da sociedade, de tudo aquilo que se associa à idéia de civilização, ao mesmo tempo em que traz à tona as facetas mais primitivas da condição humana.
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2 comentários:
O livro realmente não é fácil. O filme também não deve ser.
Preciso vê-lo.
Zelia: li o Saramago, mas nao tenho animo para assistir ao filme.
Como voce reagiu ao filme?
abr
Lala
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