agosto 24, 2008
Una furtiva lagrima - Joshua Bell
L'Elisir d'Amore- Donizetti
DOMINGO“:
A réstea de sol encolhe no chão: tempo . Só esse sol sem cor neste dia sem cor nem jeito de domingo .Idiotice: por que domingo precisa ter um jeito especial, mania de esperar que as coisas sejam dum jeito determinado , por isso a gente se decepciona e sofre. Na mesa, os livros oferecem consolo. Vontade de ler um troço decente.. Mas é preciso passar por uma porção de besteiras até chegar ao que interessa. Vontade de ter um pensamento bem profundo, desses que fazem a gente se surpreender que tenham saído da nossa cabeça mesmo , naquela modéstia que só se tem quando se está distraído...Mas o que? Sobre a vida, um combate que aos fracos abate e aos fortes e aos bravos só pode exaltar ? Sobre o amor? Que é isso que você está vendo hoje beija amanhã não beija depois de amanhã é domingo e segunda feira ninguém sabe o que será? Ou sobre a cultura e a civilização, elas que se danem, eu não, contanto que me deixem ficar na minha? Tudo já foi pensado: vida, amor, cultura, liberdade, anticoncepcionais, comunismo, esterilização, Amazônia, exploração das potências estrangeiras, mais que nunca é preciso cantar, guerra fria e vem quente que estou fervendo . Tudo na mesma merda. Pudesse abrir a cabeça, tirar tudo para fora, arrumar direitinho como quem arruma uma gaveta . Tomar um banho de chuveiro por dentro”.
Do inventário do irremediável (Caio Fernando Abreu)
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