abril 27, 2008

'Rolling Stones — Shine a light'


Shine a Light (2008) - OFFICIAL TRAILER


MUITO BARULHO POR TUDO

"Tem uns que acabaram de completar 30 anos de idade e já começam a falar coisas como no meu tempo isso, no meu tempo aquilo.Imagina então quem está fazendo 40.Ou 50. Ou mais. Está todo mundo em pânico, com medo de envelhecer. O que, de certa forma, é um medo mais razoável do que ter medo da morte: essa virá a qualquer hora e crau. Com sorte, a gente não vai nem perceber o que está acontecendo. Já envelhecer é um processo lento e com muitos dissabores. A perda da energia. A perda do pique. A perda do charme. A perda da saúde física.

Por essas e outras, recomendo a quem ama bossa nova, chorinho, jazz, música clássica, música barroca, música instrumental, pagode, samba ou bolero que vá assistir imediatamente ao documentário "Rolling Stones — Shine a light". Você pode odiar rock'n'roll, mas se ama a vida e anda sendo rondado pelo fantasma da decrepitude, o filme é um tratamento de choque da melhor qualidade. Você sai do cinema com uma visão renovada da terceira idade.

Mick Jagger fará 65 anos em julho. Keith Richards, 65 em dezembro. O baterista Charlie Watts tem 67, e o caçula Ron Wood, 61. Não dá para dizer que eles possuem uma pele de anjo — seus rostos mais parecem o Grand Canyon. O brilhante Martin Scorsese (66 anos), que dirigiu "Shine a light" com o talento que a gente conhece não é de hoje, simplesmente não teve condescendência alguma com os quatro rapazes da banda: dá pra enxergar até suas cáries.

Mas não é um filme de terror. Assistir por duas horas a Mick Jagger no palco é a prova inconteste de que lá adiante, ou ali adiante (não sei em que idade você se encontra), não há, necessariamente, perda de energia, nem perda de pique, nem perda de charme. Perda nenhuma de charme, aliás.

O homem é um dínamo. Apesar de mostrar um show quase o tempo inteiro, lá pelas tantas aparece uma cena de Jagger bem garoto, começando a fazer sucesso, com aparência de quem cheirava a leite (mas já com ar de quem cheirava outra coisa).

Um jornalista pergunta a ele: "Você se imagina fazendo a mesma coisa aos 60?" Resposta: "Fácil." Era provocação, mas o fato é que ele chegou a 2008 fazendo exatamente a mesma coisa. Só um pouquinho mais ofegante, mas menos do que muito quarentão que faz meia hora de esteira na academia.

Além de um registro histórico da banda mais longeva e mais importante depois dos Beatles, esse documentário é de tirar o fôlego.

Dá um tapa na cara do nosso cansaço, nos envergonha pela nossa falta de atitude (palavrinha manjada, mas é a que define os Stones, não tem outra) e nos avisa: velhice? Sem essa. Nós também temos um palco: aqui, este. A vida. Também temos platéia, luz, figurino, a não ser que você tenha optado por virar ermitão. Um resfriado violento pode nos jogar na cama e nos fazer sentir velhos aos 20 anos, mas, se temos saúde, não há velhice que nos detenha, a não ser que tenhamos, por vontade própria, deixado de usar o cérebro.

Vá assistir ao documentário mesmo gostando apenas de canto gregoriano. É uma injeção de adrenalina. E se você gosta de rock como eu, bom, então nem preciso recomendar nada: você já deve ter ido e está aí, fazendo planos para depois de se aposentar aos 100.

"Você pode odiar rock'n'roll, mas se ama a vida e anda rondado pelo fantasma da decrepitude, 'Rolling Stones — Shine a light' é um tratamento de choque da melhor qualidade"

MARTHA MEDEIROS

3 comentários:

Anônimo disse...

ja vi uma reportagem sobre o filme e so estou esperando aparecer nos cinemas. Sou fanzona e o pique deles é realmente sensacional.
Eu me acho otima na minha idade, super pique, mas é realmente dificil convencer o povo a superar seus medos e preconceitos e me encarar sem o rotulo de meia idade.
Meia idade? Diaboéisso?

Anônimo disse...

PARABENS, O SEU BLOG ESTÁ MARAVILHOSO. CONTINUE ASSIM. PERMITIU-ME TER A IMPRESSÃO DE ESTAR CONVERSANDO CONSIGO.
AGORA ESTOU NO AGUARDO DE PODERMOS FALAR PESSOALMENTE. MAURY

Anônimo disse...

O texto sobre a idade e seu avançar com passos firmes, sobre os incríveis pedra-rolando, é super interessante. Também dei uma olhada nas frases da coluna à esquerda, as que ainda não havia parado para ver direito. A do Jesus sem divâ é ótima, a da Clarice, idem. Mas um destaque especial merece a homenagem feita ao genro que, por certo, normalmente não leva esse codinome e, quando o leva, o termo tem outra cor, cheiro e sabor. Aproveitem bem por lá as comemo(bebe)rações. Dê um abraço no Rodrigo por mim!!
Tito