dezembro 18, 2007

Eugénio de Andrade


Conheci o Eugénio de Andrade, só recentemente, em minha última viagem à Portugal, mais precisamente, ao Porto, onde este grande poeta viveu e morreu em 2005.
Sua poesia me chegou pelas mãos de Antonio (Neves, para alguns) que me presenteou com sua obra completa. Esta pessoa especial, além de nos mostrar o Porto, (toda sua história e belezas naturais) , nos fez amar a pequena Vila do Conde ( sua aldeia), olhar Viana do Castelo de seu ponto mais estratégico ( o espetáculo que foi aquele por de sol!), visitar Esposende (os pastéis no Fão!!), enfim , todo o litoral norte de seu amado Portugal.
Com a sensibilidade de um artista (embora faça da fotografia apenas um passatempo) nos fez apreciar cada detalhe, ou o mesmo, sob luminosidade diversa, experimentar as delícias da culinária e dos vinhos portugueses (que tal um Monte Velho, Huguinho?), ouvir ( para mim significou conhecer) a música portuguesa da atualidade e desfrutar de sua companhia. Quem o conhece, sabe de que estou falando...
Mas era do poeta Eugénio de Andrade que queria falar.
Como sua poesia fala por si, transcrevo esta, colhida aleatoriamente:

SOBRE AS ERVAS
Respiras
como se pela garganta
deslizasse todo o azul de Espanha
a noite
a língua do vento

sem outras mãos

outros olhos
para beber no escuro.

Deita-te
sobre o meu peito
inclina
até ao chão
as frágeis
hastes da beleza.

As palavras
Onde te escondes

altas
passam

passam as águas
dóceis
do verão.

É tempo
já as amoras sangram
é tempo ainda

abre-me as portas do teu corpo
ó meu amor

deixa-me entrar.

Já sobre ti
de aroma em aroma
os lábios todos
caem

nupciais ou mortais os corpos
são para penetrar
lenta
oh!
lentamente .

As mãos
sobre a nuca
delicadas .

Sobre as ervas
o leite
espesso do silêncio

O SORRISO, OUTRA VEZ
Tu partiste nos quatro versos
que antecederam estas linhas;
ou partiu o teu sorriso, porque tu
sempre moraste no teu sorriso,
chuva breve nas folhas, o teu sorriso,
bater de asas no pulso, o teu sorriso,
e o sabor, esse ardor da luz
sobre os lábios, quando os lábios são
rumor de sol nas ruas, o teu sorriso.

FOZ DO DOURO
É outra vez abril
- e tão perfeito é o azul
que o estendo
ao longo do meu corpo.
Não sei de ninguem tão bem vestido!

ARTE DE NAVEGAR
Vê como o verão
subitamente
se faz água no teu peito

e a noite se faz barco,

e minha mão marinheiro.

Nenhum comentário: